O futebol poderia ser puro, mas não é. Ou talvez a tendência à crueldade seja só a parte escura de sua alma, e essa nossa mania de enxergá-lo com certo frescor poético, sem querer, embaralha tudo.
Qualquer um tem o direito de achar que as coisas correram bem nas semifinais do Campeonato Paulista. As câmeras de TV, sempre atentas - pra não dizer sedentas - não registraram cenas de violência. O que, infelizmente, não significa que elas não existiram.
Mas não pense que tamanha encrenca, tamanha violência, tenha sido resolvida porque um homem da lei teve a brilhante idéia de reduzir o número de entradas do time visitante a um número mínimo, capaz de impedir os descontentes de afirmar que batemos no fundo do poço e fomos obrigados a nos render aos jogos de uma torcida só.
Sábado ouvi no rádio que os torcedores que não tivessem ingressos não poderiam chegar perto da Vila Belmiro. No caminho até lá, não fui abordado e fiquei com a sensação de que a polícia deve ter optado por uma triagem telepática. Causar efeito é uma coisa, ser eficiente, outra.
O fato é que nunca o time visitante foi tão representado por seus torcedores organizados. Ou alguém duvida disso? Integrante das organizadas só fica sem ingresso se quiser. Ou se der bobeira. Muito diferente do torcedor comum.
Essa nova realidade pode ter potencializado o gesto obsceno de Cristian depois do gol da virada. Um gesto que, diga-se de passagem, só pode ser devidamente interpretado por quem está por dentro da linguagem dura dos que têm necessidade de torcer em bando.
Cristian se superou. Ao dar mais importância ao mau, do que ao bom torcedor, roubou parte do brilho da própria obra-prima. Duvido que de agora em diante o camisa seis do Corinthians insista na comemoração provocativa. Não sei se vocês lembram. Tempos atrás o garoto Keirrison, depois de marcar um gol, simulou ter uma arma nas mãos. Saiu disparando e sofreu com a artilharia pesada da crônica esportiva, indignada com a postura de matador encenada por ele.
A vida está aí pra ensinar, Cristian.
Outro camisa nove, Ronaldo, também esteve sob a mira. Foi depois de fazer de André Dias seu alvo. Rodado o suficiente, o fenômeno sacou há tempos que podia fazer da sua importância um escudo. Tem explorado com muita maestria e pouca lealdade a falta de critério e de coragem dos nossos árbitros.
Baixou o sarrafo no zagueiro do São Paulo e pelo visto conseguiu tirá-lo do prumo. De repente, André Dias, tão preciso em outras partidas... ficou vulnerável. Amargou uma bola entre as pernas, precisou usar a força para evitar um drible malicioso. Acabou expulso.
Perto do acontecido no Pacaembu o jogo da Vila teve ar ingênuo. As entradas viris de Diego Souza e as tentativas de intimidar o garoto Neymar estiveram longe de causar irritação parecida. Luxemburgo, esperto, chegou a sugerir até que as pessoas não deviam se melindrar tanto com os ataques ao xodó santista.
Resta esperar que as partidas de volta sejam mais um tributo ao futebol do que provocação barata. E que na hora se emocionar nossos jogadores lembrem mais da boa torcida do que das organizadas.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
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