Não se desespere. Tudo não passa de um jogo de bola.
Ainda que não se trate de algo prazeroso, veja, enxergamos nosso time mais claramente na derrota. O gol sofrido de maneira incontestável nos rouba o vôo da imaginação, e nos traz de modo repentino ao chão, para que ele triunfe sobre nosso ar disfarçadamente esnobe.
Um placar adverso sempre invoca o silêncio.
E, sem poder se misturar com a balbúrdia da torcida que delira com a bola que acaba de se chocar com a rede, deixa de ser tarefa simples acreditar na virada. Nada mais introspectivo do que aquela gelada fração de segundo que vem logo depois do gol adversário.
E quando são vários, é terrível, até porque a alma de qualquer ressaca é o excesso.
Atleticanos, santistas!
Extremistas, desencanados, lunáticos, moralistas, apaixonados desse meu Brasil!
Uma derrota ludopédica jamais será tão grave quanto uma ausência de vitória no mundo real.
Sei que é dor que vai na alma, e que reverbera no corpo.
Deixa cicatriz, provoca azia, embrulha o estômago.
Sei que depois daquele tento adversário já não havia mais como suportar as meias palavras de um comentarista comedido, profetizando que os vários gols perdidos poderiam fazer falta no jogo de volta. Nada disso. O torcedor que fica cara a cara com a derrota tem a quase certeza de que eles vão é inviabilizar o título, a alegria, vão colocar tudo a perder, literalmente.
A derrota que se desenha entre as quatro linhas é assim, faz o sujeito digerir rápido a crueldade dos dias, faz descobrir que o mundo, ou melhor, o time, infelizmente, não é como ele gostaria.
Já a vitória ilude.
Faz a gente pensar que aquele lateral não é o tal, mas pode estar iluminado um dia. E que aquele volante, cuja categoria não lhe permite ir muito além do toque pro lado, de repente, pode ser capaz de se transformar num semi-craque, contagiado pela importância do momento.
E mais, tomado pelo encantamento da vitória chegamos, sem perceber na maioria das vezes, a pensar que o fato do homem do ataque não conseguir nem mesmo se livrar do impedimento é algo superável.
Ilusão, ilusão torcida, que atrai a desilusão pro campo dos nossos sentimentos.
Junto com o triunfo, inevitável, vem a euforia, traiçoeira, driblar a razão. Uma vez nas veias, faz o descrente apostar que tudo pode ser resolvido com uma dose extra de raça. É doce esse delírio provocado por vitórias, em especial pelas repentinas e inesperadas. É doce, mas passa.
No fundo, no fundo, o único consolo pra quem se deixa enganar, pra quem recebe o tapa reservado àqueles que não tiveram nem o mísero direito ao empate, é sacar que vencidos e vencedores, integram, sem querer, um mesmo time. Cumprem penas semelhantes, divididos entre dor e prazer, já que é impossível ficar pra sempre de um lado só nesse jogo.
Os que tiveram a rede violada pelas bolas adversárias sabem muito bem que não ter o que comemorar é castigo cruel. Sem remédio.
Não há retranca que cure, não a sorte que dê jeito,
nem zagueiro que seja capaz de espantar o perigo.
Se o mundo não é feito só com o que há de melhor, por que o futebol seria?
quinta-feira, 30 de abril de 2009
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5 comentários:
Meu caro amigo.
Esplendoroso texto...
Mas vou lhe poupar de maiores comentários, pois essas duas derrotas do nosso Peixe causou "dor que vai na alma e que reverbera no corpo, deixou cicatriz, provocou azia, embrulhou o estômago". Até agora.
Abraço.
Ton
waguaru@hotmail.com
Ton,
confesso que o grande mote do artigo foi ter ficado com essa coisa na cabeça: " na derrota a gente enxerga melhor o nosso time".
A dor,então,foi inevitável.
Abraço
Caro Vladir,
Grande post! Você realmente estava inspirado. A solução para a dor da derrota é bastante simples. Venha para o lado dos Corinthianos. Mesmo quando somos derrotados. Mesmo quando nosso time não inspira confiança. Não baixamos a cabeça, apenas comemoramos. Comemoramos o nosso Corinthians. É ai que o Corinthiano se diferencia dos outros torcedores. Podemos chorar a derrota por alguns instantes, mas o orgulho de ser Corinthiano é maior e esperamos pela proxima partida para continuarmos a comemorar.
Com relação a próxima partida, acho que o Corinthians ganha de 2 a 0.
Como torcedor e jornalista, o que você acha que vai dar?
Abraço,
Rogério
Vladir,
parabéns pelo texto, vc conseguiu descrever tudo o que qualquer torcedor sente, só que de uma maneira tão poética...
E à medida que lia seu texto ia lembrando do segundo jogo da semifinal São Paulo x Corinthians. Quantas emoções!!!
Beijo
Caro amigo Vladir
Tive a felicidade de testemunhar sua estreia na ESPN Brasil ontem no início da noite.
A forma com que você foi saudado pelos seus novos companheiros dispensa maiores comentários sobre seu caráter e competência.
Muito sucesso na nova casa.
Grande abraço!
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