Esta semana que já está quase entrando para a história,
semi-pronta para engrossar o caldo do passado, vocês bem sabem, começou com uma ressaca danada provocada pela violência que teima em manchar o futebol.
Morte em Minas, confusão no Rio, dezenas de feridos em São Paulo.
E tudo isso bem no momento em que o torcedor poderia desfrutar um pouco do que o nosso jogo de bola ainda tem de melhor, os clássicos. Mas não quero - e não vou - importuná-los com histórias tristes que vocês cansaram de ouvir nos últimos dias.
Quero só pegar uma
carona no ocorrido para contar detalhes de um momento que vivi no último sábado.
Quando a tarde já chegava ao fim, enfiei os pés num par de
tênis e fui para a praia correr. Mas a maré alta e os campos de futebol ao longo da baía me obrigaram a traçar uma rota distante da beira do mar.
Fui avançando por dentro, de olho nos riscos feitos na areia e também em cada partida, para me certificar de que não acabaria atropelado por algum duelo. Acabei até gostando dessa falsa sensação de ser um ala, cheio de liberdade, avançando para o
gol adversário sem despertar a atenção dos marcadores.
Segui viagem, com a atenção presa aos mínimos movimentos de cada pelada que ia cruzando pelo caminho. Aos que afirmam que correr é um exercício difícil, digo logo que mais difícil do que correr, só mesmo correr carregando uma bola com o pé. Isso é coisa pra gente como o lateral Leandro, que na minha época de moleque, com a camisa do Flamengo, partia pra cima dos adversários ignorando a esfera que parecia atraída pela chuteira dele.
Meus Caros, acreditem, não cruzei nesse meu modesto
trajeto, uma única partida na qual não tivesse instalada uma discussão. E não era uma discussão qualquer, não, era um tremendo bate boca. Muitas vezes
esquizofrênico. Um sujeito sozinho no meio do campo, aos berros, enquanto os outros vinte e um combatentes solenemente o ignoravam.
Eu sei, não acabo de descobrir a roda. Foi sempre assim.
Mas no fundo, no fundo, acho que aí está um paralelo entre o que praticamos e o que acabamos encontrando nas manchetes. Temo que um dia a fúria dos campos se torne maior do que o próprio jogo.
Sempre me encantei com essa infinidade de estádios que se desenham, que afloram nas nossas areias nas tardes de sábado. De tanto me
ater aos embates verbais, esmoreci, clamei por testemunhar um
gol. E ele aconteceu. Embora não tenha sido visto pelo melhor ângulo.
Nem assim o astral mudou. Em segundos,
diminuiram os gritos de alegria e só ficaram no ar as palavras de indignação de um
zagueiro.
Inconformado com a marcação dos companheiros, indignado com a marcação do juiz.
* artigo escrito pra o jornal "A Tribuna", Santos