quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Athirson, no Cartão Verde



O experiente lateral, que atualmente defende a Portuguesa de Desportos, estará hoje no estúdio do Cartão Verde.
A camisa rubro-negra - da foto ao lado - é uma das muitas que Athirson vestiu ao longo da carreira.
O programa começa às oito da noite !
Participe !

Eu quero ver !

O jogo se deu em algum lugar do interior de Minas Gerais há mais de três decadas. O Cruzeiro tinha pela frente um time modesto, e no elenco um lateral-direito de respeito que atendia pelo nome de Nelinho, tido por muitos como um dos maiores cobradores de falta de todos os tempos. Bastou que ele chegasse na área pela primeira vez para ser abordado por um entusiasmado zagueiro da equipe adversária. Um negro, forte, intimidador. Por isso, não acreditou no que ouviu:

_ Nelinho, quero ver você bater falta!

O Cruzeirense não perdeu a deixa:

_ Faz a falta aí que eu bato.

O zagueiro, determinado, não amarelou. A partir daquele instante não deu mais trégua para o centroavante do Cruzeiro. Já na primeira falta Nelinho tascou o pé na bola, que explodiu na trave e foi parar no meio de campo. A mínima imprecisão do tiro deixou o sujeito ainda mais sedento por testemunhar um gol do lendário lateral. A coisa foi ficando tão escancarada que em determinado momento, dolorido, o centroavante do Cruzeiro bradou:

_ Vou parar de chegar junto! O cara tá fazendo falta pro Nelinho bater!

De tão decidido o zagueiro tratou de escolher outra vítima. Mas a falta de razão que tomou conta do sujeito foi tamanha, que contam os mais entusiasmados que em determinado momento, depois de cavar mais uma falta, ao ver um outro jogador tomar a bola nas mãos, ele se adiantou e foi logo avisando:

_ Quem vai bater é o Nelinho!

O negócio do cara era não dar chance pro azar. Acontece que o tempo foi passando e nada do gol sair. Sabe-se lá que sentimentos estranhos fermentaram no peito daquele apaixonado jogador de defesa .

O fato é que ele não só não poupou esforços, como nem ligou pro ridículo. Uma falta a mais, e seu coração deve ter disparado ao ouvir soar o apito do juiz. Espremido na barreira que se movimentava nervosa, acabou dando uma baita bandeira. Ficou de costas para o cobrador, mirando a própria meta. Situação que tirou o goleiro do time dele do sério:

_Vira pra lá. Olha pra frente, !

Aí não teve jeito, ele se traiu:

_ Ê, só você qué vê o gol?

Ninguém entendeu nada! Pra sorte dele a tensão do momento impediu que os companheiros da pequena agremiação compreendessem aquela espécie apaixonada de motim. Nelinho, com o veneno de sempre, mandou a bola na gaveta com direito a curva e tudo, pra delírio do seu mais insano oponente.



* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

* Agradecimento especial ao amigo Mazinho que, depois de ouvir, dividiu essa história comigo

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Dia de Cartão Verde




Desde janeiro deste ano o Cartão Verde tem novo dia e horário:

QUINTA, OITO DA NOITE !

Hoje, eu , Vitor Birner, Xico Sá e Sócrates,

vamos receber no estúdio o volante Hernanes, do São Paulo.

A gente costuma dizer o seguinte:

"Opinião, temos a nossa. Mas fazemos questão de ouvir a sua"

Assista, divulgue, opine !

O clima do jogo

Esta semana que já está quase entrando para a história, semi-pronta para engrossar o caldo do passado, vocês bem sabem, começou com uma ressaca danada provocada pela violência que teima em manchar o futebol.

Morte em Minas, confusão no Rio, dezenas de feridos em São Paulo.

E tudo isso bem no momento em que o torcedor poderia desfrutar um pouco do que o nosso jogo de bola ainda tem de melhor, os clássicos. Mas não quero - e não vou - importuná-los com histórias tristes que vocês cansaram de ouvir nos últimos dias.

Quero só pegar uma carona no ocorrido para contar detalhes de um momento que vivi no último sábado.

Quando a tarde já chegava ao fim, enfiei os pés num par de tênis e fui para a praia correr. Mas a maré alta e os campos de futebol ao longo da baía me obrigaram a traçar uma rota distante da beira do mar.

Fui avançando por dentro, de olho nos riscos feitos na areia e também em cada partida, para me certificar de que não acabaria atropelado por algum duelo. Acabei até gostando dessa falsa sensação de ser um ala, cheio de liberdade, avançando para o gol adversário sem despertar a atenção dos marcadores.

Segui viagem, com a atenção presa aos mínimos movimentos de cada pelada que ia cruzando pelo caminho. Aos que afirmam que correr é um exercício difícil, digo logo que mais difícil do que correr, só mesmo correr carregando uma bola com o pé. Isso é coisa pra gente como o lateral Leandro, que na minha época de moleque, com a camisa do Flamengo, partia pra cima dos adversários ignorando a esfera que parecia atraída pela chuteira dele.

Meus Caros, acreditem, não cruzei nesse meu modesto trajeto, uma única partida na qual não tivesse instalada uma discussão. E não era uma discussão qualquer, não, era um tremendo bate boca. Muitas vezes esquizofrênico. Um sujeito sozinho no meio do campo, aos berros, enquanto os outros vinte e um combatentes solenemente o ignoravam.

Eu sei, não acabo de descobrir a roda. Foi sempre assim.

Mas no fundo, no fundo, acho que aí está um paralelo entre o que praticamos e o que acabamos encontrando nas manchetes. Temo que um dia a fúria dos campos se torne maior do que o próprio jogo.

Sempre me encantei com essa infinidade de estádios que se desenham, que afloram nas nossas areias nas tardes de sábado. De tanto me ater aos embates verbais, esmoreci, clamei por testemunhar um gol. E ele aconteceu. Embora não tenha sido visto pelo melhor ângulo.

Nem assim o astral mudou. Em segundos, diminuiram os gritos de alegria e só ficaram no ar as palavras de indignação de um zagueiro.

Inconformado com a marcação dos companheiros, indignado com a marcação do juiz.


* artigo escrito pra o jornal "A Tribuna", Santos

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Um post quase em branco

Peguei a folha branca
E a palavra partiu
Saiu pela porta de trás
apressada
Desceu as escadas em disparada
Bateu a portão
Traçou um caminho incerto
Apertou o passo
Fugiu...

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O ensaio de uma nova democracia

Corintianos, não se iludam! As contas não fecham. A dívida é imensa. As intenções suspeitas.

Seria bom que o tal pleito não estivesse tão perto. O tempo, sozinho, talvez se encarregasse de desnudar as armações tramadas para ludibriar a torcida. Ao menos, neste sábado, a partir das nove da manhã, não será mais um pequeno colegiado que decidirá o futuro de um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro.

Ainda que a situação tenha mudado, é inevitável que a eleição corintiana, de certa forma, espelhe a realidade do nosso país. No Parque São Jorge a possibilidade do voto também não vem acompanhada de nomes que causem certa empolgação. A política nacional e a política alvinegra estão doentes da mesmice.

Esse ensaio de uma nova democracia terá que caminhar muito para alcançar um lugar na história e um dia, quem sabe, descansar ao lado daquela outra, tramada nos idos da última década de oitenta. Sou um cara estranho, desconfiado de tudo, ressabiado até com essa geringonça chamada "urna eletrônica".

A única certeza que trago comigo é a de que a nação corintiana, politicamente falando, merece muito, muito mais do que tem.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

a meta santista

Não se trata de procurar culpados. Que fique bem claro. Mas todo mundo tem seu jeito de encarar as coisas. E eu também tenho o meu. Por isso, peço desculpas se esse texto se revelar um tanto amargo. Sei que se conselho fosse bom seria vendido. E estou mais ciente ainda de que a mídia tem um humor perigoso.

Duas semanas atrás, lendo uma pesquisa, dei de cara com um detalhe interessante. Talvez perverso seja a palavra. Peguei na mão duas manchetes de jornal. O espaço entre elas era de exatos vinte e sete dias, portanto, menos de um mês.

Na primeira o jogador Raí era tratado como o último ídolo da seleção, na segunda, como um fracassado. Casos assim povoam o universo do futebol brasileiro e mundial. Logo, está descartada a possibilidade de que qualquer vítima de lances assim diga que está sendo alvo de um complô.

O goleiro Fabio Costa deve saber bem disso. Afinal, tem amargado críticas contundentes. Tem ouvido jornalistas exaltarem seus erros. A posição que ele escolheu é ingrata, todo mundo sabe. Mas a de atacante não é? É, ô se é.

Então, que trate de espalmar a bola venenosa da perseguição pra longe. Não duvido nem um pouco que ele hoje, contra o Marília, volte a fazer uma exibição irreparável, como já fez tantas. Mas é preciso ter a humildade de saber que isso não vai resolver o problema. O fato é que um goleiro precisa, antes de tudo, de regularidade. De outro modo corre sério risco de não agradar.

Há tempos o arqueiro santista fez questão de deixar claro a sua maneira de encarar as divididas. Diante de atacantes mal intencionados decidiu usar o escudo da força. Parece ter acreditado que a fama de atleta que não teme divididas fosse, de alguma forma, lhe facilitar a lida. Sem querer escancarou o que devia ser segredo.

É provável que tenha se sentido amparado quando, tempos atrás, o goleiro Marcos, ao se contundir por causa de um adversário truculento, chegou a declarar que a partir daquela data agiria um pouco " como o Fábio Costa". A única coisa que poderia ter aprendido com isso é que tudo o que é dito com o estômago briga com a razão.

De lá pra cá, alguém aí viu o Marcos usando esse tipo de expediente pra cima de alguém que tenha invadido a área dele com a bola no pé? Ou alguém aí viu o Ceni sendo protagonista de uma entrada em que tenha ficado clara a discutível " força desproporcional".

Acho que o que pode realmente salvar a pele de um goleiro quando o adversário se aproxima disposto a colocar a bola no fundo da sua meta é a técnica. A força é só uma arma que alguns usam pra intimidar. Torço pra que Fabio Costa veja o lado bom disso tudo. Quando se trata do relacionamento com a mídia tudo pode mudar. E nem todas as palavras são escritas para serem bem digeridas.

Nelson Rodrigues era bem mais cruel do que eu nos seus pontos de vista. Dizia que "... um atacante, um médio e mesmo um zagueiro podem falhar. Só o arqueiro tem que ser infalível. *



* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sob os olhos da FIFA

Como vocês já devem saber, desde o último dia 30 uma Comitiva de Inspeção da FIFA está na área. A tarefa do grupo é fazer visitas técnicas às cidades brasileiras que se candidataram à Copa de 2014.

A nobre procissão começou por São Paulo e terminará no sábado, em Fortaleza. Respeitado o cronograma, por volta das 10 horas desta quinta-feira, o grupo, acompanhado do "nosso" Comitê Organizador- liderado pelo simpático Ricardo Teixeira - verá uma Manaus "maquiada", e por volta das 15 horas, estará em Belém.

Agora, o que sabem sobre o nosso país os homens que neste momento perambulam por aí exercendo a fina tarefa de vistoriar as cidades que disputam o direito de sediar jogos da Copa de 2014? Tendo a acreditar que o Brasil, pra eles, como pra muitos que passam por aqui, é um reino exótico e tropical, adornado por mulatas e turbinado por caipirinhas.

Que histórias dessa nossa terra os integrantes do comitê brasileiro contam para eles entre um compromisso e outro? Certamente, não lhes confidenciam a maneira indigna como os torcedores tupiniquins são tratados em nossos estádios, muito menos lhes confessam a dificuldade que eles encontram na hora de comprar um ingresso, tão pouco versam sobre os banheiros que eles enfrentam, principalmente, na hora do intervalo.

Assistir a um jogo da arquibancada de um estádio brasileiro, seja ele qual for, diria muito mais sobre a realidade do nosso futebol do que qualquer dossiê que eles venham a receber. Visitar dezessete cidades voando num jatinho fretado nem deve ser tarefa tão cansativa. Cansativo seria enfrentar a realidade dos nossos aeroportos. Nossos executivos, claro, não deixariam que eles perdessem tanto tempo.Além do mais, com uma infinidade de investimentos no horizonte, em breve, nosso sistema aeroviário estará um brinco. Talvez faça até inveja à própria Suíça.

Ao final, terão sido nove dias com ar de conto de fadas. Dias repletos de almoços fartos, em Palácios, cercados de gente muito importante, entre reuniões marcadas por projetos mirabolantes, exalando um cheiro forte de primeiro mundo. Um luxo.

O Brasil é mesmo o país do futuro. E o futuro nunca esteve tão perto. Mera meia década.

Na passagem pelo Rio de Janeiro, então, as autoridades mal conseguiam disfarçar os esfuziantes sorrisos, a troca de tapinhas nas costas. O que poderia esconder melhor nossa realidade social do que um passeio de helicóptero num domingo de sol pelo céu azul do Rio?

Foi uma metáfora perfeita para os homens que se darão por satisfeito em visitar nosso país "por alto". Mas também haja estômago para as coisas da nossa terra, ?


* artigo escrito para o jornal "A Tribhuna", Santos

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A arte de finalizar

Não sei se vocês já perceberam, embora não consiga imaginar que um desgosto desses, instantâneo, mas insistente, tenha passado despercebido por olhos tão sensíveis em relação à maneira que se trata uma bola. É que parece estar cada vez mais difícil ver uma jogada terminar em grande estilo. Não quero recorrer aos números, quase sempre de uma frieza, a mim insuportável, mas tenho cá comigo a convicção de que um bom levantamento iria mostrar que “nunca na história deste país” (sei que o Lula vai perdoar esse meu plágio) os nossos homens de frente, e não só eles, finalizaram tão mal.


A cada partida, seja ela um clássico, ou não, o número de chutes que tomam um destino bizarro é enorme. E olha que os que mais reclamam da moderna tecnologia das nossas bolas são os goleiros. Falo de doutores no assunto, gente como Marcos, do Palmeiras, ou Rogério Ceni. Sou capaz de apostar que vocês, em algum momento já ouviram um deles argumentar que elas são projetadas para ajudar os atacantes, ou quem ataca, já que nossos volantes estão cada vez mais saidinhos e com tendências artísticas. As gorduchinhas (não, não se trata de nenhuma provocação ao nosso fenômeno) estão cada vez mais leves, desenhando trajetórias cada vez mais traiçoeiras.

Não entendo mais nada. O Sócrates, de quem nesse campo não sou capaz de duvidar, fica indignado toda vez que ouve alguém falar que os jogadores da seleção precisam treinar fundamento, e vai entrando de sola, dizendo que eles têm a obrigação de trazer essa lição na ponta da língua, digo, dos pés, quando chegam lá. Concordo, se trata mesmo de ensino fundamental como o próprio nome sugere. Só que aí vejo meus amigos de redação se divertindo com o festival de jogadas medonhas durante a Copa São Paulo recém-encerrada, e me pego pensando que se trata de problema crônico, de raízes profundas. Ainda bem que, vez ou outra, um candidato à craque quase consegue nos convencer de sua genialidade com uma meia bicicleta, com um chute certeiro no ângulo, ou com uma bola bem colocada entre as pernas do adversário. Mas, não levemos adiante, meu Caro torcedor, essa ladainha. Isso pode ser, bem sei, apenas efeito colateral de um torneio estadual que ainda não empolgou.


Bom, já escrevi o suficiente pra sacar que tanto no campo das letras, quanto no campo de jogo, sai de cena melhor aquele demonstra precisão e rapidez na hora de finalizar... de colocar um ponto final no lance. Inté!!!



*artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos