segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sobre crenças

Esporte e religião. Há quem diga que ela é uma invenção para nos livrar do desamparo.Coisa que ele pode muito bem ser também. Semanas atrás, lendo uma pesquisa sobre a religião entre os jovens, dei de cara com um resultado que me chamou a atenção.

Diziam os números que o principal motivo de união entre eles era a religião. Até aí, nada demais. Mas, surpreendentemente, ela vinha seguida das atividades esportivas, e com boa margem de vantagem sobre as atividades artísticas, aí – presumo – incluída música, literatura, cinema, teatro etc. Uma vitória considerável. O placar exato era de 42,5 a 32,5 a 26,9%.

Pensei: É o suor provando seu valor. Não é à toa que vemos por aí gente treinando com tamanha devoção, encarando treinos como quem encara um ritual. Assim como vemos gente se apegando ao esporte de maneira desequilibrada, como muitas vezes acontece nas igrejas. Nem precisei ir tão longe nesse devaneio. Está aos olhos de todos: O esporte tem lá suas penitências, e sua promessa de redenção.

E quem seria capaz de discordar que a prática esportiva, quando exercida de modo pleno, traz, como se fosse uma benção, a desejada saúde mental, tal qual faz a religião? É só reparar, os seguidores do esporte vão às travessias aquáticas, aos jogos de futebol, às quadras, com a alegria de quem se entrega a uma festa religiosa.

Há ainda a comunhão com os que não praticam, mas gostam de se dizer devotos. Como toda virtude o esporte exige conduta, e segui-lo dia após dia é tarefa árdua. Pergunte a Gustavo Kuerten, Cesar Cielo, Valmir Nunes...

Mas o esporte, bem como a religião, sem acreditar não é nada. E para descobri-lo é preciso apenas praticá-lo. No templo do nosso corpo esse bem que poderia ser um mandamento único.

O esporte, como a religião, é feito de negação. E só a entrega absoluta é capaz de revelá-los por inteiro. Fica a me alegrar nesses dias em que a bola não rola, o fato dos números terem desvendado bem mais do que isso, terem desvendado uma juventude livre o suficiente para levar adiante práticas religiosas sem ter, necessariamente, que estar ligada a nenhuma delas.

Aos que deixam seu olhar vagar por essas palavras, deixo além de algumas linhas, cumplicidade. Falei que voltava no Natal, e resolvi voltar no espírito. Não como quem acredita em presentes. Mas como quem acredita em dádivas. Como alguém que aproveita esse tempo pra pensar a importância das coisas.

Desejo a todos, saúde! Algo, aliás, que o esporte promete dar também.



* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", Santos - em 25/12/2008

2 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto Vladir!

Feliz 2009!

Abraços

Sandro

Anônimo disse...

Essa pesquisa é aqui no Brasil? Porque é surpreendente. Legal que o esporte tem essa importância entre os jovens. É uma das melhores religiões que se pode seguir.