Que grande oportunidade me dá esta folha. Encontrá-los neste dia tão cheio de significado, pouco depois de vermos um outro ano passar a fazer parte do passado. Sejamos exigentes nesse ano que chega. Não exigente de modo mesquinho, como quem pretende organizar, sejamos exigentes com o humano. Vamos exigir outros atos sobre nossos campos, sobre essas arenas verdes com as quais, em breve, voltaremos a gastar horas dos nossos nobres domingos.
Artilheiros, temos muitos, brucutus e pernas-de-pau nem se fala.Temos técnicos durões, disciplinadores, jogadores bons vivants, astros enamorados, bad-boys enrascados. Isso tudo temos aos montes. Mas não deve ser pouco o que queremos tirar desse ano novo. Nele não deve nos bastar um drible abusado, um lindo lançamento longo ou um golaço, isso tudo já temos. Agora, qual terá sido o grande gesto a que tivemos direito depois de tantas rodadas? Teremos tido direito a um? Só um, um de verdade?
Não falo dessas encenações amestradas. Falo de gestos capazes de tocar o próximo. Falo de gestos grandiosos. Não de casos de gases em vestiários, da reeleição de cartolas obtusos se gabando de suas semi-eternidades. Não falo de homens finamente vestidos pra receber um prêmio a mais, ou um prêmio único, ou um primeiro e último.
Que neste ano que chega tenhamos diante de nossos olhos atos dignos para levar com a gente futuro adentro, que sejamos testemunhas de atos nobres dentro de campo e, mais ainda, fora dele. Veja, a vida jamais se resumiu às quatros linhas.
Mesmo as promessas que nascem com esses dias não devem ser modestas. Levar uma vida mais saudável, se alimentar melhor, fazer as pazes com alguém, emagrecer. Essa, aliás, hoje, parece feita sob medida para o fenômeno, Ronaldo. Porque pior do que estar pesado é ser cobrado, lembrado dessas coisas.
O poeta chileno, Pablo Neruda, morreu em 1973, mas deixou um poema chamado “Celebração”, em que se imagina vivendo o reveilon de 1999 para 2000, e um dos seus versos diz : “este número imenso que custou tanto tempo/tantos anos e dias em pacotes”.
É isso, 2009 custou mais tempo ainda, não é justo que queiramos tirar pouco dele. Aos que hoje vão à praia jogar bola, aos que brindarão entre amigos, aos que tirarão o dia para não fazer nada, a todos, não deve bastar chegar ao gol. É preciso querer chegar lá da maneira mais digna, mais humana, mais brilhante possível. E tudo o que precisamos pra isso é um tempo novinho em folha.
Eis o novo. Aí está!
* artigo publicado no jornal "A Tribuna", Santos em 01/01/2009
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
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