Tenho um amigo de profissão, sábio, que vive alertando os estabanados de que é possível dizer qualquer coisa a qualquer pessoa, o segredo reside no modo de falar. Mas é fato que o mundo está repleto de gente que não faz a mínima questão de ser gentil. E como fiz dos treinadores brasileiros tema deste espaço dias atrás, não vou resistir à tentação de falar sobre o ocorrido no Fórum de treinadores realizado na última terça e que virou notícia pra valer graças a imensa saia justa provocada pelas declarações dadas por Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira. Os dois sacaram a gentileza de campo e foram pro ataque pra mostrar que ainda não engoliram a realidade que os mandou, talvez para sempre, ao banco de reservas. Realidade que eles ajudaram a construir.
Pensando no amigo citado, imagino que o momento até comportasse, pelo que representava, palavras que afirmassem aos presentes de que aquela era uma oportunidade para repensar tudo o que tinha sido feito pelos treinadores brasileiros na nossa história recente, e que claramente se faz necessário um esforço de toda a classe para que num espaço de tempo muito breve eles possam retomar um espaço que foi todo deles e que hoje está ocupado por um dos treinadores mais respeitados do mundo, que aceitou a missão de trabalhar pelo futebol brasileiro, e a quem fizeram questão de homenagear na ocasião. Algo nessa linha. Mas, levando em consideração o que prega o velho amigo de redação, adequar discursos exige humildade, exige cuidado.
Em uma coisa , ao menos, Emerson Leão acertou, o culpado por Carlo Ancelotti hoje ser visto como o maioral na antiga colônia dos ditos professores que aqui reinaram é mesmo culpa dele e de seus conterrâneos. Isso sem falar em Oswaldo de Oliveira, que soou ainda menos polido do que o ex-goleiro da Seleção Brasileira. Mais pelo tom inflamado e por se mostrar tão incomodado com o fato de a Seleção estar sendo comandada por um estrangeiro, do que propriamente por afirmar que espera ver um brasileiro no cargo depois da Copa. E eu arrisco dizer que boa parte dos que acompanham futebol também gostaria que isso se desse. A questão posta - não é de hoje - é que o cargo exige alta capacidade. Também é interessante notar que a deselegância parte justamente de dois profissionais que estão certamente entre os principais nomes arrancados do panteão outrora intocável do futebol brasileiro quando a realidade começou a mudar.
O que eu sei é que não faltou canelada. Em Ancelotti, que topou dar uma descida da Sala que ocupa na sede da CBF já que lhe disseram que era uma homenagem o que lhe aguardava no Auditório do piso térreo. Canelada na aproximação que a Federação de Treinadores tentava com a CBF, como foi dito com todas as letras por um dos seus diretores que repudiou as palavras de Oswaldo de Oliveira. Enquanto o presidente, Wagner Mancini, adulado no discurso de Leão, adotando a linha que sugere meu amigo, reconheceu que foram falas fortes, mas frutos do tom democrático do Fórum, que o próprio Ancelotti sugeriu que a CBF recebesse, vejam só. À parte tudo que essa postura evidencia e justifica, devo dizer que Oswaldo de Oliveira foi dos treinadores mais educados que vi no trato com a imprensa. O mesmo não pode ser dito de Emerson Leão, que vi ser grosseiro algumas vezes, mas que sempre soube respeitar ambientes. Os que já viveram um tanto sabem bem que a partir de certo momento a gente passa a não ter papas na língua. O que não anula grosserias - nem de deixa de aclarar posições contestáveis - e que, no caso, só torna mais evidente o tamanho do trabalho que os treinadores brasileiros têm pela frente se quiserem voltar a ser vistos como os tais.
