quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Personagens


Não sei se seus olhos já vieram desaguar aqui ou se, distraidamente, passaram pelo título. Se passaram, ele deve ter lhe semeado na cuca, como diziam os da minha geração, uma certa curiosidade. Diante de um título desse a gente quer saber logo de quem se trata. Pois bem. O primeiro personagem é Zinedine Zidane. Isso porque outro dia dei eu de cara com um título que me abduziu. Mas, devo confessar, menos pelo viés apelativo que tinha e mais pelo fato de há tempos não saber de nada a respeito de um jogador tão magnífico. A promessa que o tal título embutia era a de me esclarecer quais são os jogadores que ele mais admira na atualidade. E ser elogiado como boleiro pelo francês argelino deveria valer por um troféu. E se vocês andaram dando de cara com a mesma notícia que eu, fiquem tranquilos, vou fazer o favor de lhes matar essa curiosidade também. Mas já adianto que não tinha nenhum brasileiro na parada. 

Eram dois portugueses e um espanhol. Vitinha e João Neves. E o garoto Lamine Yamal, de quem, aliás, já ouvi  Roberto Rivellino tecer comentários para lá de empolgados também. Interessante que Zidane tenha citado apenas jovens, pois o mais velho do trio no caso é o primeiro, Vitinha, que tem vinte e cinco. Yamal tem dezoito. E João Neves está entre os dois nesse quesito. Poucos dos que vi jogar mostraram tamanha elegância como Zidane. Ou melhor, em matéria de elegância ninguém o superou até hoje. E aquele gol marcado por ele contra o Bayer Leverkusen na final da Champions de 2002, que ficou conhecido como o gol de uma perna só, habita meu imaginário de modo singular.  E o nome que ganhou deve servir de aviso, porque como se costuma dizer ele daria baile em muitos por aí mesmo jogando com uma perna só. 



Quando tenho arroubos, e flerto com o politicamente incorreto, afirmo que se trata de um jogador tão raro no futebol que mesmo quando optou por dar uma cabeçada no adversário o fez com estilo. Ao pensar que está afastado desde 2001 imagino que deva ter se cansado do mundo da bola, soa incongruente que isso tenha partido do futebol. Mas como Didier Deschamps já avisou que deixará o comando da Seleção Francesa depois da Copa, Zidane pinta na área como o mais cotado. Melhor para o futebol.  

E por falar em quem sabe tratar a bola, quero colocar nesse hall aqui, Jorge Carrascal, do Flamengo. Que o jogo de ida com o Racing colocou em evidência. Num elenco como o do rubro-negro ser ou não ser titular será sempre uma questão, além de condição que pode mudar muito rapidamente. Mas que o colombiano anda numa frequência que dá gosto de ver isso anda. Tem mostrado um tino pro jogo vertical como poucos, e a força física que o jogo hoje exige de quem quer jogar em alto nivel. Emerge como outro desses jogadores com trajetória mais modesta do que o futebol deles sugere. Na carreira de pouco mais de uma década, entre o surgimento no Millionarios e a chegada no Flamengo, defendeu um time pequeno na Espanha, gastou dois anos na Ucrânia, antes de desaguar no River, para em seguida consumir outros três jogando na Rússia. 


Pedro Souza/ Atlético MG


E o meu outro personagem é o paraibano Givanildo Vieira de Souza, a quem o futebol emprestou pra sempre  um ar de herói, ao batizá-lo como Hulk. E não é que depois de ter feito tudo o que andou fazendo com a camisa do Atlético Mineiro fez nascer manchetes avisando que ficou mais de ano sem marcar um gol de bola rolando no Brasileirão? Ainda que nesse período tenha feito uns de falta, outros de pênalti e até marcado gol olímpico. Sem contar que deixou bem claro, inclusive na noite da última terça, que segue sendo capaz de ajudar o time de outras maneiras e em outros torneios. A cobrança é mesmo brava, sempre. Mas não fosse o jejum de gols queria ver o Sampaoli, esse baixinho que faz questão de se dar cara de invocado, ter peito pra colocar o cara no banco. Encarar heróis desde sempre foi coisa que só se pode fazer tirando proveito de fragilidades. E que nunca nos falte bons personagens, porque bom futebol nos falta... e não é de hoje. 

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