Se alguma revolução houve no futebol brasileiro nos últimos tempos foi a que destituiu do panteão um grande número de treinadores que durante um bom tempo reinaram por aqui. Não cabe citar esse ou aquele, mas tenho certeza de que qualquer um que tenha acompanhado a novela que o jogo de bola sempre tece terá em mente bons exemplos para ilustrar esse raciocínio que proponho. Não dá pra negar o papel da crônica esportiva nisso. Em dado momento o atraso dos ditos professores era apontado dia após dia como a principal causa da modorra vista nos gramados. Seria leviano dizer que padecíamos apenas desse mal. Longe disso. Para além do que eram capazes àquela altura de construir taticamente havia em paralelo um sem fim de outras questões jogando contra. O retrato que ficou desse tempo é um ballet grotesco, com treinadores pulando de um clube para o outro, e muita retranca, que ao mesmo tempo tinha a intenção de proteger placares e empregos.
A lição que se pode tirar disso é que não era à toa que a crônica mirava os professores. O efeito colateral, num primeiro momento, foi abrir as portas para uma nova geração. Era por ela que se clamava. Novos nomes tiveram oportunidades. Viram cair sobre si a perigosa fórmula do sucesso rápido. Outros, que iam bem, acabaram vitimados por passos maiores do que as pernas. Mas foi um período abreviado porque não tardou e o futebol brasileiro passou a viver uma espécie de abertura, fazendo valer sua condição financeira sobre os outros países do continente. E aí a coisa não teve mais freio. Os primeiros estrangeiros já tinham chegado, pinçados um pouco por esse descontentamento nacional e um pouco também pelas conquistas modestas da nova geração que notadamente precisava de tempo para amadurecer. E foi graças a um sucesso imediato acompanhado de grandes conquistas que os treinadores estrangeiros, feita a revolução, começaram a reinar.
Os antigos poderão sempre dizer que não tiveram as mesmas armas, já que os que chegaram depois encontraram um futebol brasileiro em que as cifras cresciam com vigor, possibilitando uma melhora sensível na qualidade técnica dos elencos. Nada muito significativo. E como o futebol não está apartado do mundo, muito menos de suas mazelas, riqueza nele é coisa pra poucos também. Aliás, os dois são tão parecidos que o futebol anda cheio de nobres perdendo a distinção. E notem que os times mais endinheirado do país, Palmeiras e Flamengo, são comandados por dois treinadores que espelham muito bem essa pós-revolução. Abel Ferreira, tem quarenta e seis anos, e por mais que goste sempre de deixar nas entrelinhas, mas não só nelas, que já decifrou o futebol brasileiro, não deve fazer nem ideia do que aqui se passou antes que chegasse com sua caravela. E nem poderia, não tem culpa alguma. Vive a mais singular realidade já vivida por um treinador nestas terras, pois amparado por uma diretoria poderosa, num clube com finanças invejáveis, assim é visto pelo menos, e cercado por conquistas de respeito que desde sempre se fizeram o melhor dos escudos para exercer o ofício. Em outros tempos teria ar de eterno.
O outro personagem que ilustra esse momento é Filipe Luís. Mais jovem do que Abel, e que o destino - não sem merecimento -catapultou ao comando do Flamengo. Tem sido comum ouvir comentários prevendo que irá desenhar uma gloriosa carreira. Algo de que não há razão para duvidar, por sua formação. Difícil é discordar que antes dessa, vamos dizer, mudança de costumes, algum dirigente iria arriscar o pescoço entregando um time milionário nas mãos de um treinador de quarenta anos e não laureado. Não discordo do que dizem a respeito dele, mas muitas vezes, entre amigos, me sinto obrigado a ponderar que não deixa de ser um piloto com poucas horas de voo pilotando um boeing. E algumas páginas desenhadas pelo rubro-negro nesta temporada talvez possam ser explicadas por esse frescor. E é do jogo. Alvissareiro mesmo é notar que, seja como for, o futebol brasileiro em alguma coisa mudou.
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