Tenho curiosidade pra saber que tipo de desdobramentos esse Mundial de Clubes irá provocar no futebol brasileiro. Para os europeus, sempre tão falados, e teoricamente donos de uma excelência que o torneio tem insistido em colocar em xeque, o apito final ou a eliminação serão sinônimos de férias. Para os brasileiros hora de voltar a pensar na vida como ela é. Há uma temporada pra se terminar. Voltarão os que lá estiveram de ânimos renovados, escondendo uma dose de confiança, por terem figurado entre os nobres do mundo da bola? Esse número de jogos a mais cobrará um preço alto quando o calendário brazuca tiver feito todas as suas exigências? E mais, irão os que ficaram tirar mesmo algum proveito do tempo que tiveram para trabalhar? Que o deus da bola nos ajude quando todos os fantasmas que rondam nosso futebol voltarem a nos assombrar.
Por falar neles digo a vocês que a mim soa como uma lição ter atravessado toda a fase de grupos do Mundial sem que um lance tenha se sobreposto ao jogo, virado uma polêmica daquelas. Sem o bendito VAR como protagonista. E olha que foram nisso quarenta e oito jogos. É fato que apenas doze deles envolveram brasileiros e que, de certa forma, temos olhos mesmo é para nós e os europeus. Sendo assim, mesmo que um time de outro continente tenha sido tungado é bem possível que o lance tenha passado despercebido. Mas por falar no tema, a CBF diz que prepara a primeira fornada de árbitros profissionais para o ano que vem. Sessenta e quatro deles, entre juízes, assistentes e bandeirinhas realizaram na semana passada no Rio de Janeiro treinamentos práticos e teóricos.
A profissionalização dos árbitros é tema antigo. Hoje em dia a remuneração média de quem atua na Série A é de quinze mil reais. Alguns estão bem acima dessa média o que no entendimento de muita gente já seria suficiente para que vivessem disso. É compreensível. Como é compreensível também a necessidade de um vínculo empregatício. No modelo atual recebem por partidas. Pelo que li a respeito o projeto que vem sendo implementado tem um grande cuidado com a parte física. Quem trabalha na Série A passará a usar aquele tipo de colete, já muito usado pelos clubes, que não deixa escapar nada. Medindo o que eles correram, onde se posicionaram. Tudo muito importante. Só um louco faria pouco caso dessas questões.
A impressão que tenho é que muito do vivemos se dá em outro plano, no da interpretação, na leitura de jogo. É comum diante de casos polêmicos alguém bradar que não é possível, que esse ou aquele árbitro nunca jogou bola. É um comentário que pode soar banal mas que está longe de ser despropositado. Talvez mais valioso do que profissionalizar fosse com esses cursos conseguir de alguma forma uniformizar a leitura de jogo, aproximar critérios. Vejam, virou comum ouvirmos que fulano é do tipo que deixa o jogo correr, que não dá qualquer falta. Entendo o que está por trás desse ponto de vista. Não deixo de considerar virtude.
Mas quando se trata de arbitragem importa é ter um padrão. E não alijar nosso futebol de tecnologias que a essa altura são simples, como a do chip que indica se a bola ultrapassou a linha do gol. Seria nobre contribuição. Como seria aquela outra que define um impedimento de maneira automática. Coisas que poupariam os árbitros em muitos casos. Porque falar em profissionalizar sem dar aos árbitros as melhores condições de exercer o ofício será sempre fazer a lição de casa pela metade.
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