quinta-feira, 13 de junho de 2024

A realidade que consome reinados



Esta era de Sociedades Anônimas de Futebol, as tais SAFs, que andam aí a frequentar manchetes mostra que as aparências enganam. Em geral, nascem de grandes fortunas convencidas de que o futebol pode ser um bom investimento. Cria-se neste ponto um primeiro distanciamento com o torcedor. Tendo o clube um dono será fatal que em algum momento o interesse dele deixe de comungar com o de quem torce. E quem torce não está livre de descobrir tempos depois que este não é um caminho capaz de livrar alguém da bancarrota. Um olhar mais apurado sobre o futebol espanhol é capaz de deixar isso claro. E mais, pode servir de aviso aos nossos clubes que andam tomando os caminhos que estão aí. 

Em 2021 dirigentes e clubes da Liga espanhola se reuniram para assinar o acordo que seria feito com um fundo. Mas Real Madrid, Barcelona e outros dois clubes pularam fora. O resultado dessa decisão foi a exclusão deles do socorro financeiro de mais de dezesseis bilhões de reais injetados pelo fundo de Luxemburgo em troca de dez por cento das ações da Liga. Por outro lado não ficaram sem os dez por cento de seus direitos de TV pelos próximos cinquenta anos. Mas isso é apenas um recorte da história que depois teve outros desdobramentos. E se o resgato é para mostrar que nem SAFs, nem Ligas estão livres de acabarem vitimadas pela má administração, ou por interesses outros.  Ouso sonhar que bem administrados os clubes por si seriam viáveis. E é a este ponto que quero chegar. 

Durante todo o tempo que acompanho futebol ficou muito claro que é possível alcançar grandes resultados usando métodos temerários, longe de serem ideais. Mas o óbvio é que mesmo projetos que pareciam perfeitos, ou quase, com o tempo se desmancham. São muitos os exemplos vistos nos últimos anos. Chega-se à glória para, tempos depois, voltar ao caos. Desde a última sexta o Corinthians se fez, ainda mais, um notório exemplo disso. Há pouco mais de uma década vivia seu apogeu, ao menos no que diz respeito a conquistas. E parecia sólido para encarar o futuro. Hoje tudo mudou e, se em campo as Copas ainda permitem ao torcedor alvinegro sonhar com dias desses em que é possível sair por aí tirando onda dos rivais, o Brasileirão aos fiéis torcedores tem outra face, revelando um time que se distanciou da elite, ainda que nos últimos dez anos tenha terminado como campeão em duas ocasiões.  

Lembranças que não por acaso lhes voltam opacas por causa do descalabro administrativo que se instalou no clube. A ponto de aquele que foi anunciado como o maior patrocínio "master" da história do futebol brasileiro ter virado caso de polícia. E na esteira disso tenha sido vista uma debandada imensa de dirigentes. Difícil saber quais são as forças que agem verdadeiramente sobre um time como o Corinthians. Não descarto a possibilidade de que em campo seja capaz de extrair algum novo triunfo. E se ele vier certamente servirá , como sempre no futebol, de escudo para os cartolas. Bem intencionados, ou não. Entendo quando o torcedor corintiano torce o nariz para resenhas que miram a administração, essas coisas extra campo. Isso torra a paciência. Mas a qualquer tempo o que o fiel torcedor deve mesmo exigir é que o Corinthians, por seu tamanho, história e importância, tenha o fôlego de um Flamengo destes dias. Sem esquecer jamais que o rubro-negro também é parte dessa realidade que sempre consumiu reinados.  

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