Vamos direto ao ponto: por ter dito que a organização da Copa América que neste momento se desenrola em nossas terras foi atabalhoada o técnico da Seleção Brasileira, Tite, foi multado. O que pode ser interpretado como uma punição por dizer a verdade. Diz o dicionário que atabalhoado é algo feito às pressas. Diz também se tratar de um adjetivo que cabe a algo confuso. Sabemos todos que a Copa América vinha sendo planejada há tempos, dá pra dizer até que vem sendo planejada insistentemente já que ao longo dos últimos seis anos tivemos nada menos do que quatro edições do torneio. Como sabemos também que a edição atual deveria ter sido realizada com jogos na Colômbia e na Argentina. Dois países que por motivos distintos - mas para lá de cabíveis - decidiram abrir mão do torneio. O primeiro envolvido num turbilhão social e o segundo ao se render aos números da pandemia de Covid 19.
Se o que estava planejado não foi atabalhoado o desembarque do torneio em terras brasileiras mais do que justifica o adjetivo, ainda que haja um sem fim de outros adjetivos que seriam apropriados à situação , muito menos polidos do que o usado pelo técnico da Seleção Brasileira. Tite foi enquadrado no artigo 12.2. Mas pelo comportamento que teve não poderia se encaixar em boa parte das situações sobre as quais versa o artigo. Por certo não violou o que se considera um comportamento aceitável no âmbito do esporte, da Conmebol provavelmente, mas é sobre o esporte e sobre o dito futebol organizado que fala. Também não insultou a Conmebol, seus oficiais ou autoridades. Muito menos se utilizou de um evento desportivo para realizar manifestações de caráter não esportivo.
Diria, inclusive, que a falta de posicionamento a respeito de questões não esportivas, mas muitas vezes ligadas ao ofício que exerce, é uma critica contumaz que se faz ao treinador brasileiro. Age, como diz um ditado, como um elefante numa loja de cristais. O que não se pode negar à Tite é a virtude da polidez. Difícil imaginá-lo enquadrado em outros termos do artigo, como o que fala de se comportar de maneira ofensiva ou difamatória de qualquer índole. Restando assim imaginar que a punição se baseou na última linha de tudo o que o artigo descreve. A saber, comportar-se de maneira tal que o futebol como esporte em geral e a Conmebol em particular poderiam ver-se desacreditados como consequência desse comportamento.
Tudo leva a crer que foi esse "em particular da Conmebol" que baseou o enquadramento. Mas basta conhecer minimamente a história recente da entidade que comanda o futebol sul-americano para se ter ciência de tudo o que ela vem fazendo nos últimos anos é se deixar ser desacreditada. Teve dois presidentes presos e se viu envolvida até o pescoço no escândalo que abalou o mundo do futebol em todo o planeta. A maneira meio fria com que o torcedor brasileiro tem tratado a Copa América não deixa de ser um reflexo de tudo isso. Se já não há como saber se a bola que se joga aqui serve de medida para interpretar a bola que se joga no velho mundo, é preciso reconhecer que Tite tem números respeitáveis. Não que esteja livre de críticas. Quem no cargo seria capaz disso?
Fato é que os jogos até agora foram de dar sono. Mesmo a goleada sobre o Peru, tão elogiada, esteve longe de encantar. O jogo contra a Colômbia, então, diria que beirou o sofrível. Não fosse a aura de rivalidade que os colombianos deram ao encontro - e aquela tabelinha com o árbitro - a essa hora o torcedor poderia estar mais desencantado ainda. Amanhã a Seleção volta a campo. Há no ar a esperança de que a fase de mata-mata possa dar outro ar ao nosso maltratado torneio de seleções, ainda mais apequenado diante de tudo que temos visto acontecer na Eurocopa. Mas é o que nos resta.
2 comentários:
Eu gostaria que o Sr. Vladir Lemos comentasse, e dissesse o que pensa do "desrespeito" que o futebol brasileiro tem às vítimas da COVID-19 com aquele famoso "1 minuto de silêncio", que está sendo diminuído para 50, 40, 30, 20, e até 15 segundos, como se o "minuto inteiro", que é de direito até mesmo a quem ainda não foi contaminado, fosse algo que "atrapalhasse" o início de cada jogo.
E não estou falando da Copa América, pois ela, por si só já é um grande desrespeito à elas.
Caro Wagner
Já falei sobre esse minuto de silêncio em artigos anteriores, mais de uma vez, inclusive. E o classifiquei como uma das coisas mais cínicas que o futebol poderia fazer e segue fazendo, aliás.
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