A maneira como nossos dirigentes tratam a questão da pandemia fica cada vez pior. Por isso peço licença para dar um drible no tema. Ando sem paciência. Vou falar da Copa do Brasil. De quem já gostei mais é verdade. A mudança no formato levou embora parte do meu entusiasmo. Esse negócio de dar o empate ao visitante não me passa. Como nunca me passou ver times pequenos deixando sua cidade de origem pra fazer o jogo em outro lugar. Em geral capitais. Afinal, gramados mal aparados, estádios modestos, ausência de iluminação, são ou não são coisas nossas? Como são o samba, a prontidão e outras bossas, como disse certa vez Noel Rosa.
Não foram poucas as vezes em que vi times modestos botando uma pressão danada pra cima de gigantes. Emprestando a partidas comuns um certo ar de decisão. Como não foram poucas as vezes em que me empolguei com eles, mesmo que o entusiasmo quase sempre não tenha ido muito além da metade do primeiro tempo. Seja como for, o velho estilo da Copa do Brasil deixou suas marcas. Que o digam os torcedores do Santo André, do Criciúma, do Paulista, de Jundiaí. Tá certo que o número de times anda beirando o exagero. Já estamos perto de uma centena. É um detalhe discutível, mas quero crer que esse aumento - ainda que tenha sido promovido com outros interesses - de alguma forma seja também um modo eficaz de inclusão.
E nem digo que seja exatamente contra essa história de os times que disputam a Libertadores chegarem para a festa quando o torneio está nas oitavas. Imagino que ofereça certa graça aos menos favorecidos essa chance de medir força com eles. Até porque na ausência dos tais, em caso de triunfo, sempre vai pintar na área um engraçadinho pra questionar o tamanho do feito. Também não vou entrar nessa de dizer que basta olhar os últimos campeões para perceber que as mudanças tornaram o mais raiz de nossos torneios menos democrático, mais previsível.
Semana passada quando o Corinthians foi a Pernambuco enfrentar o Salgueiro me chamou a atenção o fato de o narrador ter destacado que com a grana que o vencedor ganharia por passar de fase, pouco menos de setecentos mil reais, o campeão pernambucano teria assegurado a grana que precisava pra disputar a Série D. Diante desse abismo nunca me parecerá demais oferecer aos menos nobres a possibilidade de um jogo cá e outro lá. Ouso dizer mais, seria muito salutar que o triunfo em um torneio de âmbito nacional estivesse, como já esteve, mais ao alcance das equipes que estão longe de fazer parte da elite do nosso futebol.
Pensem em todos os efeitos colaterais que essa, digamos, democracia do triunfo seria e é capaz de produzir. Reavivar a relação com a torcida, dar um tempero em rivalidades regionais e, claro, contribuir pra aumentar o faturamento. E o que me faz acreditar nisso é ver momentos como o vivido pelo Retrô, outro time pernambucano que esteve em campo na semana passada pela Copa, e que virou notícia por derrotar o Brusque - ilustre integrante da nossa Série B do Brasileiro - na primeira participação da equipe em uma competição nacional. O futebol é assim, só pede uma chance. E por aqui quem pode dar é a Copa do Brasil.
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