Estou convencido de que 2020 não foi um ano pra futebol. Muito menos um ano em que fazê-lo voltar à cena com a mesma tabela, com o mesmo número de jogos, não tenha se mostrado de algum modo inconsequente. Um jeito meio cara de pau de fazer de conta que tudo estava ou está sob controle. Trataram mesmo foi de cuidar dos negócios. Na medida do possível, claro, tomando algum cuidado. O mínimo. Que nunca foi tão insuficiente. Como disse um amigo não podemos glamourizar a pandemia. Mas eu de minha parte digo: triste daquele que por ventura venha a sair dela exatamente do jeito que entrou. Se algo dessa magnitude não for capaz de nos transformar minimamente sinceramente não sei o que teria essa capacidade.
Vejam, não estou aqui a cuspir no prato. É uma questão de ter consciência do que o momento exigia e exige. Ter tido um jogo de bola pra nos distrair certamente teve seu papel nessa dureza toda. E até a noite de ontem eles estavam aí a nos distrair com seus enredos. Certamente não foram poucas as conversas que se fizeram mais leves por causa dele. Vai saber quantos bate papos não teriam se resumido a uma récita dos números da pandemia e suas histórias tristes se a bola não estivesse rolando. Nem por isso devemos absolver os que insistiram nesse calendário entupido, pra não dizer estúpido. Abarrotado e alimentando o fantasma de um WO.
Não teria sido uma boa hora para adequar o nosso calendário ao calendário europeu? No mínimo teríamos, quem sabe , livrado o torcedor brasileiro de uma vez por todas do desgosto que costuma abatê-lo quando se abrem as janelas de transferência por esse mundão afora. Santa ingenuidade pensará o cartola que por ventura venha a pousar seus olhos sobre estas linhas. Seria preciso para isso deixar de honrar o que já estava acordado e que garantiria as cifras de sempre. E tomar outras tantas e tão corajosas atitudes. Entrar numa dividida brava com o mercado publicitário, talvez. Mas não perco a esperança. Pois se não demos de cara com lances de coragem nos bastidores, algo em campo parece ter se quebrado.
Aquele jogo entre PSG e Istambul não há de se perder no abismo do tempo. No mínimo mostrou que há atitudes bem mais eficazes do que espalhar banners e placas pelas laterais dos gramados pedindo isso ou aquilo. As grandes mudanças não costumam brotar de gabinetes nem de salas com ar condicionado. E também não costumam se dar em cenários em que culpados não são punidos. Mas tudo pode mudar. Ou você algum dia imaginou que fosse possível se divertir vendo seu time jogar num estádio absolutamente vazio? Que lição poderia nos mostrar melhor o quanto esse nosso tempo tem nos colocado na condição de meros figurantes?
Mas esse mesmo jogo de bola, brutal e mágico, pode nos emprestar uma boa metáfora, uma tática que nos salve dessa condição. A boa e velha valentia para encarar grandes divididas. Coisa da qual a vida não costuma poupar nem mesmo os craques. E não me venham falar que é bom que este ano se vá depressa, pois não há nada mais ingrato do que fazer pouco caso do tempo que nos foi dado. E que tenhamos saúde e coragem para as divididas.
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