Sabe, sou do tempo em que o aventureiro que se entregava ao ato de apitar uma partida de futebol era chamado de juiz. Esse papo de árbitro veio depois, muito depois. A maneira de intitulá-lo pode ter mudado mas a natureza e os desafios do ofício permanecem exatamente iguais. Tá certo, a modernidade encheu o homem de penduricalhos. Mas essa tem sido a realidade de muitas profissões. No que diz respeito aos juízes vivemos uma era muito além da caneta para anotar os cartões. Agora, além das marcas que carregam no uniforme, tem a lata de espuma pra tornar nítida a posição onde deve estar a barreira ou a bola na hora de uma cobrança de falta. O fone de ouvido, o microfone para falar com o árbitro de vídeo - essa entidade que anda colocando à prova nossa paixão pelo jogo.
Não sei porque motivo os cartolas teimam em desafiar o velho ditado de que paciência tem limite. Um dia ela acaba e aí quem sabe - já que é pra deixar tudo na mão da tecnologia - até nós, os de cabelos brancos acabemos nos entregando a um desses esportes eletrônicos qualquer onde, imagino, ainda se pode gritar gol exatamente na hora em que a bola alcança a rede. Escrevendo aqui agora até bateu uma saudade de ver o ilustre cidadão lá no meio das feras, todo de preto, trajando camisa de gola e tudo. Uma elegância só. Por mais que a bola pudesse vir a lhe bater na canela e ir parar dentro da meta lhe deixando com a sensação de quem de repente se pega nu diante de uma multidão.
No fundo acho que aceitei a teoria do amigo de redação porque vejo mesmo a dificuldade que temos para acreditar na honestidade de quem apita uma partida de futebol. O cara pode até ser um craque no assunto, mas na hora que pisa na bola o erro nunca soa apenas como um erro. Note. Isso num tempo em que as pessoas andam acreditando em cada coisa. Terra plana, chip em vacina. Eu, de minha parte, queria a essa altura poder acreditar, ao menos, que o ilustre juiz continua sendo mesmo soberano lá no meio do circo. Mas como? Se agora além de ficar de olho em tudo ele precisa , numa fração de segundo, decidir se deve mesmo confiar no que seus olhos lhe sugeriram. Tá certo, se chegamos a esse ponto foi porque muitos por aí deram bandeira, ajudaram a sustentar grandes esquemas. Mas a desconfiança anda tamanha que agora até quando o juiz não se dá ao trabalho de ir lá na tela conferir o VAR...hum, não sei não!
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