Eis que cento e oito rodadas depois o Santos voltou a liderar o Brasileirão. Mais notável do que isso é perceber o time presente em tudo quanto é conversa que se trava sobre o jogo de bola. Agora de envaidecer mesmo é saber que o time santista se encontra nessa condição reconhecido como uma equipe que joga bonito. Ainda que seja verdade: nesse sentido o momento pobre que o nosso futebol atravessa ajuda a amplificar consideravelmente essa virtude.
Não acho difícil de entender quando Sampaoli diz que o maior adversário da equipe a partir de agora pode ser a própria equipe. Qualquer pessoa envolvida com esporte sabe que chegar lá é uma coisa, se manter, outra, mais desafiadora ainda. Poderia citar o Palmeiras como exemplo, mas é preciso levar em consideração que são realidades diferentes. O time da Vila tem foco total no Brasileiro enquanto o time alviverde disputa outros torneios ao mesmo tempo, um deles com apelo suficiente para rivalizar com o nacional.
E há outros fatores que merecem atenção. Certas caneladas que a direção santista vira e mexe insiste em dar. Dias atrás foi muito estranho ouvir Sampaoli dizer que não sabia da chegada de Paulo Autuori para ser o diretor de futebol do clube. Nada contra Autuori, que teve o conhecimento e a vivência no futebol exaltados pelo argentino quando falou sobre o assunto. O Santos tem lá sua hierarquia, não é decisão para o treinador. Mas boa comunicação e transparência nunca são demais.
O tipo de coisa que deixa no ar a impressão de que a excelência que tem sido vista em campo não se alcança fora dele. O momento é de contrapartida. Pois se o treinador colocou o time nessa condição merece ter atendidos seu pedidos de contratação, merece que lhe seja dado um atleta capaz de suprir o vazio deixado pela saída de Jean Lucas, que me impressionou com seu estilo elegante de tratar a bola e pelo visto ia se encaixando no elenco de maneira rara.
Não se trata de pedir pra gastar o que não se tem. Embora saibamos todos que o Santos tem insistido em gastar caminhões de dinheiro com contratações que não seduziriam nem o mais inocente dos negociantes. Parte daquela lógica toda própria do mundo do futebol. E se falo de questões administrativas é porque em certo sentido estar ciente de que ao trazer Jorge Sampaoli para comandar o time se fez algo ousado e é preciso capitalizar em cima disso.
As pessoas a essa altura já esqueceram que na época trazer para o futebol brasileiro um profissional com mercado na Europa, que tinha feito o Chile campeão de uma Copa América e que tinha acabado de comandar a seleção argentina em uma Copa do Mundo soava meio improvável. Mas toda essa euforia, é verdade, esconde um detalhe muito importante, o campeonato está no começo, o ano em que estamos é que dá a impressão de estar já lá na frente.
De qualquer forma, o momento do time santista é especial. Quando vi a Vila cheia no último domingo me veio à cabeça o fato de que em outros tempos até os torcedores dos outros times tinham vontade ver o time santista jogar. O Santos de Sampaoli deixa, por hora, a impressão de que pode fazer algo assim. O que seria um feito fenomenal.
* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", de Santos/SP - 01/08/2019
* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", de Santos/SP - 01/08/2019
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