"Estão todos na terra da fantasia". A frase foi dita por Jurgen Klopp o atual técnico campeão de clubes da Europa, comandante do Liverpool. A cutucada veio em hora oportuna. Pouco antes de o time dele disputar a Supercopa da Inglaterra com o Manchester City, do notável Pep Guardiola. Klopp afirmou que o adversário estava entre os quatro times que podiam se dar ao luxo de gastar um rio de dinheiro a cada janela de transferências. Pep se defendeu dizendo que não era bem assim, que existia o fair play financeiro para equilibrar as forças.
Mas essa coisa de terra da fantasia é termo muito apropriado. Está pra nascer o economista capaz de elucidar a lógica que move o mercado do futebol. Os números, creio, até já desfilaram aqui. Notem. A receita dos quatro grandes clubes de São Paulo nos últimos dez anos aumentou em setenta por cento. Seria muito salutar que o salto tivesse sido dado em virtude de administrações primorosas. Mas sabemos que não é o caso. A negociação dos direitos de transmissão dos jogos é apontada como a grande responsável pelo salto, mas ela também tem lá seus detalhes singulares. Incrível também é ficar sabendo que apesar desse faturamento inflado as dívidas desses clubes cresceram na mesma proporção.
Outra frase incrível, capaz de fazer o torcedor do Fluminense se sentir num sonho, foi dita pelo técnico do Peñarol depois de o time dele ser eliminado pelo tricolor carioca da Copa Sul-Americana. Na coletiva depois do jogo de volta - nova derrota, dessa vez por dois a um - Diego Lopez foi claro ao definir o que tinha vivido. Disse ele: foi mais difícil que o Flamengo. Time, aliás, que por estas bandas também poderia ser acusado pelos adversários de viver na terra da fantasia. Ou o torcedor rubro-negro não se sente num conto de fadas? Não ao ver o que anda vendo em campo, mas ao se dar conta de que o time dele agora tem Rafinha de um lado, Filipe Luiz do outro. Entre compras e vendas o time da Gávea movimentou apenas nesta temporada quase meio bilhão de reais, pra ser mais exato, 468 milhões.
Olhando aqui do hemisfério sul dá pra dizer que Klopp falou de barriga cheia. No ano passado o time dele gastou como nunca, como avisava uma certa manchete tempos atrás. O quarteto apontado por ele - e que soa óbvio - é formado pelo Manchester City, pelo Barcelona, pelo PSG e pelo Real Madrid. Os quatro são os grandes protagonistas desse reino da fantasia. Talvez fizesse bem ao treinador alemão, sem dúvida um dos grandes treinadores do futebol mundial, tomar consciência de que se ele não está nesta terra da fantasia, está na condição de nobre com posses capazes de seduzir muita gente. O que nunca será pouco.
E por falar em tricolor, o São Paulo acaba de colocar o seu torcedor nessa onda. A chegada de Daniel Alves, seja pra jogar na lateral ou no meio campo, soa como um sonho. A festa foi grande e a expectativa também é. A crer no que foi dito por gente entendida no assunto o novo contratado do time do Morumbi é do tipo capaz de convencer um elenco inteiro da capacidade de triunfo. Uma espécie de agente catalisador da vitória. Que assim seja, porque o futebol brasileiro anda carente de fantasia. E com a cartolagem faturando cada vez mais alto nada mais justo do que deixar o torcedor se sentir parte dela.
* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", de Santos/SP
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