quarta-feira, 8 de maio de 2019

Messi não é Pelé



É impressionante o que uma polêmica, por mais barata que seja, ou as infindáveis comparações são capazes de provocar. Faz tempo que os espertos de plantão perceberam isso e não perdem a chance de transformar uma e outra em incremento de audiência. Na última semana, depois de o argentino Lionel Messi ter feito o que fez no jogo de ida da Liga dos Campões da Europa diante do Liverpool,  brotaram nos quatro cantos da crônica esportiva conversas querendo traçar um paralelo entre ele e Pelé. Bom, ao menos não é mais o Maradona, e isso de algum modo deve significar um mínimo progresso. Eu mesmo me vi diante da questão, proposta por um telespectador. Tentei uma finta rápida, mas sem deixar de tomar posição para não ser deselegante. 

Entendo o apelo do duelo que vai nisso implícito, mas considero qualquer tentativa de comparação vazia.  Nada ver com a bola que o Messi joga que é imensa. De longe pra mim o mais impressionante que vi, pois se dissesse que realmente vi Pelé estaria mentindo. E o atropelo que o Liverpool impôs ao time dele ontem nesse sentido pra mim não muda nada. Como boa parte das polêmicas e comparações o que essa entre o argentino de Rosário e o brasileiro de Três Corações ignora é a verdade, porque no fundo só deixando certas verdades de lado é possível levar esse tipo de papo adiante. Não é pela bola que joga que Messi jamais será Pelé. É, antes de qualquer outra coisa, pelo que representa. 

E não falo isso por crer, como muitos por aí, que Pelé foi até capaz de parar uma guerra. Recentemente o projeto de pós-doutorado de José Paulo Florenzano mostrou que a história não foi bem assim. E pra corroborar sua versão citou, inclusive, matéria deste jornal, escrita por Gilberto Marques, onde não há uma linha sobre esse tão alardeado ocorrido. Isso prova que Pelé é menor do que imaginamos? Jamais! O que isso prova é que a história é algo vivo, que vai evoluindo, trazendo para ela novos elementos. Comparar homens que construíram suas obras em tempos distintos terá sempre algo de distorcido.  Não vou apelar para que lembrem dos triunfos de Pelé em Copas, algo que não faz parte da trajetória do camisa dez do Barcelona, mas peço que imaginem a figura de Pelé em termos planetários, o que  o tal Edson representa na própria história do futebol mundial e, aos poucos , quero crer, irá ficando claro que não existe paralelo. 

Virá certamente um gaiato dizer que não se trata disso, se trata apenas do que cada um é capaz de fazer com uma bola no pé. E estaria aí o típico raciocínio que faz de conta que o todo não existe, e que tem sido, em última instância, o combustível de polêmicas e comparações. Mozart ou Beethoven? Jimi Hendrix ou Eric Clapton? Tenha dó. Considero Messi um gênio, não me entendam mal. Sou muito mais tocado pelo estilo dele do que pelo de Cristiano Ronaldo, outro jogador fenomenal. Nos últimos dias vi até comentaristas de economia e política seduzidos por esse duelo entre os dois. Um deles espantado até com o apelo que o assunto estava tendo junto aos ouvintes. Um efeito colateral do encanto que Messi vira e mexe tem renovado e do, por hora inigualável, papel que Pelé ocupa no imaginário de cada torcedor, na história.  

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