Duas narrações ganharam espaço na mídia
nos últimos dias. Uma delas feita no jogo em que a Argentina amargou um empate
com a Venezuela em pleno Monumental de Nuñez. Nessa o que se ouve é um locutor
inconformado com o que testemunha. Até aí pura sintonia com os mais de vinte
três mil torcedores que acompanhavam tudo in loco. Mas o que me chamou a atenção
foi a quantidade de palavrões que ele precisou usar para expressar o que estava
sentindo e que o que se via ali era inconcebível. Fora o fato de uma transmissão
recheada de palavrões me soar descabida ( e não digo isso por puritanismo, por
favor) achar que o futebol não pode nos pregar certas peças é o fim. Se a
tradição do futebol argentino o fizesse imune a esse tipo de mico onde residiria
exatamente a graça do futebol ?
A outra
narração, menos comentada, foi a do gol de empate da seleção da Síria marcado
aos quarenta e oito minutos do segundo tempo e que manteve o time com chances de
ir para a Copa da Rússia. Precisará pra isso passar pela Austrália na
repescagem. Quem conhece minimamente o que a Síria passou nos últimos seis anos
pode ter uma breve ideia do que essa conquista significa. Trata-se de um país
dizimado pela guerra, que não fez um jogo em casa por motivos óbvios. Tem jogado
suas partidas na Malásia. E com um precioso: é comandada por um técnico sírio,
não contratou um estrangeiro com algum currículo. É fato que não entendo a
língua dessa narração. Imagino que - por motivos culturais até - esteja livre
de palavrões ou frases afins.
Mas é de impressionar o renascimento em campo vai
se revelando no tom da voz do locutor. Não era
pra menos. A Síria tinha feito um a zero e com o resultado estava garantindo a
vaga. Mas o Irã tratou de virar o placar para dois a um. E àquela altura é de se
compreender que tudo parecesse perdido. Aí a voz vai se transformando ao dar de
cara com o contra ataque que mudaria o destino do time Sírio. O gol se consuma
e o narrador vai descrevendo a cena com cada vez mais emoção e quando surge,
depois de um tempo considerável vale destacar, não deixa dúvidas de que se
trata de um choro que não pôde ser contido. Não há ali um resquício qualquer
desse teatro fácil das narrações com o qual nos acostumados. Não tenho nada
contra a indignação argentina, ela faz todo sentido. O que não faz sentido é uma
narração cheia de palavrões. E não me venham com aquele papo de ter falado o que
o povo argentino estava sentindo. Educação é bom, e eu gosto.
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