quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Futebol não é ciência


Só não vê quem não quer: o jogo é outro. Ainda que muitos o vejam com os olhos de sempre. O tempo transforma tudo. Nesse sentido talvez fosse mais interessante tentar explicar porque que é que só nossas cabeças e nossas manias resistem tanto. Acredito que por gostar tanto do jogo de bola é que os homens quiseram fazer dele algo sem segredo, como desde sempre os homens têm tentado fazer com o mundo e com a própria existência. Assim nossa velha brincadeira se encheu de ciência. E cercado de tanto estudo e teoria o futebol virou o que temos visto. 

Como não aceitamos a principal lição que se poderia tirar de tudo isso, a de que tanto no futebol quanto na vida segue sendo impossível saber ao certo o que nos leva ao resultado esperado, já era tempo de perceber que pensar demais costuma jogar contra. Mas o que acho digno de nota é que o momento tem tornado muito claro o abismo existente entre o que o futebol foi e o que ele é. E a melhor maneira de dar conta disso é prestando atenção ao discurso dos treinadores.

Há em atividade profissionais de várias gerações. Alguns continuam acreditando na versão menos cientifica do jogo, em geral amparados num empirismo que não raro dá conta do recado. E há em ação os que representam a versão mais moderna da coisa. E aí eu citaria o nome do jovem Jair Ventura. Pois creio estar na boca dele o tipo de discurso que mais tem contribuído para tornar clara essa cisão. As falas do treinador do Botafogo, a meu ver, deixam transparecer um futebol esmiuçado, estudado, amparado em observações de fundo científico. 

Mas entre a geração mais antiga e essa mais nova há ainda uma outra, representada por treinadores que misturam um pouco das duas. E o detalhe aí é notar que esse discurso moderno na boca deles não soa tão encaixado. E não os culpo. Trata-se de um discurso que eles tiveram de incorporar sem, de repente, ter realmente a convicção de que apontam o melhor caminho. Usam as tecnologias, se informam do que anda acontecendo pelo mundo mas estão - por uma questão meramente temporal - presos a certos conceitos. Veja, não estão errados.

É um caminho sem volta? Sim, por hora não vejo outro com tantos adeptos. Adiante, quem sabe, algum iluminado irá sacar que é preciso uma dose mais adequada de tecnologia. E que uma dose de velhos métodos - deve haver algum - também poderia fazer bem ao jogo e, o melhor de tudo, trazer resultado. Ma se isso acontecer, não será já. Possivelmente daqui alguns anos quando o mundo começar a sacar que não deveríamos viver de olhos tão grudados em smartphones, tablets e afins. Há muitos lugares pra se buscar conhecimento. 

O tema está posto e não deve ter sido por acaso que o técnico Rogério Ceni, depois da derrota do time dele para o Audax, diante do revés e da supremacia numérica do tricolor, fez questão de lembrar que o futebol não é matemática ou ciência exata. Eu vou além. Digo que, apesar de toda a contribuição científica, o futebol jamais será ciência. Embora exista um exército fazendo força para transformá-lo nisso.  

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