Não é só o jogo, as entrevistas de futebol também dão o que falar. Os repórteres
que as alimentam são acusados - como é do conhecimento de todos - de sempre
perguntarem as mesmas coisas. E o efeito colateral dessa falta de riqueza
interrogatória seria provocar as respostas de sempre também. Verdade e mentira.
Se o país desse às entrevistas sobre política ou economia a atenção que dá as
que são feitas tentando elucidar algo sobre o tal jogo de bola a conclusão não
seria muito diferente. E não custa lembrar que cada assunto tem lá seus
horizontes.
Levir Culpi e Marcelo Oliveira, comandantes dos times mineiros que
farão a grande final da Copa do Brasil, têm mais em comum do que, simplesmente,
uma visão sobre o futebol. Os dois têm um discurso rico sobre ele. De Levir
foram várias as passagens interessantes que puderam ser ouvidas na coletiva dada
por ele depois do jogo de ida da decisão. Destaco aqui a comparação feita entre
os jogadores Luan e Jesus Dátolo. Disse o treinador atleticano que os dois
aparentemente não têm nada a ver, têm estaturas diferentes, jeitos diferentes,
mas que carregam um espírito muito parecido, se entregam ao jogo de forma
parecida e que essa simbiose muito tem dado ao Galo. Parece raso mas, feita do
jeito que foi, é de uma profundidade incomum nesse cotidiano dos clubes.
Minha
avó paterna costumava dizer que a fala deveria ser dada aos homens em metros, o
que os obrigaria a pensar mais antes de usá-la. Mas sabe como é. Falar é fácil,
na teoria. E não quero aqui cair naquela conversa de que nas entrevistas de
futebol muitos tentam assassinar a nossa língua. Ignoram a conjugação dos verbos,
os plurais e por aí vai. Pra mim, mais interessante é capacidade que elas
revelam de criar provas contundentes de que é possível ser muito claro sem ser
exatamente preciso.
E, pensando nisso, foi justamente nas falas do pós jogo
entre Atlético e Cruzeiro que ouvi, uma vez mais, alguém sacar um "nonde" e
encaixá-lo no papo. Isso mesmo. Não sei se já notaram. O "nonde" tem sido muito
colocado em jogo nesse campo para substituir algo como o "em que" ou um modesto
" no qual". Não entendeu? Eu explico. Por exemplo, o boleiro é convidado a
discursar sobre a partida que acabou. Depois de dizer que seu time fez um bom
jogo manda um "nonde". Algo do tipo " fizemos um bom jogo 'nonde' o time
conseguiu se impor...". Prestem atenção, não vai demorar muito e vocês irão dar
de cara com um nonde por aí. E o mais interessante, ele fará todo o sentido, que
soará correto não digo. Mas acho mesmo interessante notar essa capacidade que a
comunicação nos dá de nos fazermos claros, ainda que imprecisos.
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