O sintoma mais forte foi ouvir a Presidente da República dizer, ao
falar sobre a Copa, que os aeroportos e os estádios estavam encaminhados. Vejam,
encaminhados. Isso em um país em que a praxe manda inaugurar antes mesmo de
finalizar, sem maiores problemas. Uma prova de que mesmo com o
Mundial batendo à porta a chefe do executivo não se sente à vontade pra dizer
que está tudo pronto. Pudera, depois de sete anos na condição de sede não
há nada que justifique tudo não estar devidamente preparado. Mas não é só aí que
enxergo nosso descaminho.
Ele está também nos protestos, que no início sugeriam
a possibilidade de um despertar, mas pelo visto descambaram para a baderna e
agora padecem de um oportunismo barato. E nesse caldo não incluo, claro, a
reivindicação de categorias que se sintam prejudicadas já que em todo o planeta
não há nação que não tenha precisado lidar com greves deflagradas em momentos
como o que vivemos agora. Nosso descaminho, que o dicionário define como um sair
do caminho correto, é flagrante.
Pode ser conferido em um evento teste, que
inventamos de fazer de um outro jeito, com público reduzido etc e tal. A própria
votação da legalidade de Lei Geral da Copa no Supremo Tribunal Federal me
deu essa impressão. Não consigo discordar do presidente Joaquim Barbosa,
que sugeriu a um colega que não é porque o país assinou alguma coisa que temos
de aceitá-la, pois " não se trata de não gostar ou gostar do país. Trata-se de
gostar muito e saber onde está o interesse nacional". Mas ele foi o único, todos
os outros por seus votos, pelo visto pensam diferente dele, eu não.
Devo dizer
ainda que me senti de alma lavada ao ouvir Joaquim Barbosa, na mesma seção,
dizer que estavam todos ali "com uma visão muito romântica, e que o que estava em
jogo era Big business" , quando o que deveria ser analisado era " a
capacidade contributiva de toda essa organização (FIFA) e seus satélites que vão
ganhar bilhões de reais", enquanto " nós, brasileiros, vamos ficar com a conta".
Não quero crer que o presidente do Supremo estava , como dizem, jogando pra
torcida.
Estava, a meu ver, apontando um caminho. Ou alguém imagina que se o
Supremo tivesse votado contra essa Lei Geral, a essa altura, a FIFA decidiria
não realizar o evento, ou tirá-lo daqui?. Teria sido, sim, um exemplar exercício
de cidadania. A Copa irá nos divertir não há dúvida, mas de que
trouxe consigo esse amargo de nos obrigar a ver pelas entranhas o país que temos
construído também não há.
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