quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Um sonho caro

 
A foto me seduz. Nela um garoto muito novo, vestindo a camisa do Flamengo, tem o olhar vago.Sou levado a ler a matéria que acompanha a imagem. Descubro que se trata de Cassiano Bouzon. Um prodígio que, do alto dos seus doze anos, já teria recusado uma proposta do Barcelona, negociado com o Fluminense. Tudo isso antes de ir parar no time da Gávea. Dizem que os dirigentes rubro-negros não querem expor o menino e que no Ninho do Urubu - o Centro de Treinamento do Flamengo - Cassiano chega quase a ser assunto proibido. Sei.
 
A leitura me fez lembrar a história de outro garoto. Meia década atrás, aos treze anos, Jean Chera era a maior promessa do time do Santos. Hoje, aos dezoito, o meia segue sem ter feito um único jogo como profissional. Chera passou pelo Genoa, da Itália, esteve em negociação com Palmeiras, Corinthians e também não vingou vestindo a camisa do Atlético Paranaense. E nem vem ao caso falar aqui sobre o papel desempenhado pelo pai dele, apontado frequentemente como uma pessoa de difícil trato.
 
Não custa lembrar que em outros tempos Chera era mais badalado do que Neymar e Gabriel, que agora vai aparecendo no time titular do Santos. Tão desafiador quanto interpretar o futebol é entender os seus caminhos. Faz algum tempo, vendo um jogo do Salgueiro pela Copa do Brasil, me interessei pelo fato do time pernambucano ter no elenco um nigeriano. Quis saber de quem se tratava. Descobri que Yerien Richmind Esukusiede, deixou a cidade de Lagos - a maior daquele país africano - aos 17 anos.
 
Chegou acompanhado por um amigo que costumava vir ao Brasil comprar mercadorias para vender na Nigéria... e teve a coragem de não voltar. Passou mais de dois anos sem condições de jogar, sem documentos, ilegal. Passou fome. Em sua peregrinação por times de base, vestiu a camisa do Palmeiras B, onde teria sido alvo de chacotas dos atletas por aparentar na época mais do que seus alegados quase vinte anos. Só no ano passado, depois de quase meia década de Brasil, conseguiu assinar o primeiro contrato profissional, com o Treze, da Paraíba.
 
E foi vestindo a camisa do time paraibano que chamou a atenção dos dirigentes do Salgueiro. Escrevo tudo isso só pra dizer que acho perigosa essa realidade atual de equipes sub12, 13. Depois que um menino se vê enredado por tudo isso é tarefa árdua neutralizar a ilusão. Acredito que quando alguém veste um garoto com uma camisa de futebol e desperta nele um sonho deveria também ser responsável por salvá-lo dele, caso as coisas não saiam como o imaginado. Garotos têm é que brincar de jogar bola. O futebol levado muito a sério só interessa a alguns.

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