Com um pouco de boa vontade
é possível enxergar o atual Corinthians como o sucessor daquele Santos que foi
capaz de voltar a vencer a Libertadores depois de quase cinquenta anos. Um time
que estava na crista da onda, onde agora se vê a equipe dirigida por Tite.
Os mais azedos dirão que o Corinthians de hoje está longe de ter a pulsação
daquele que bateu o Boca e o Chelsea. É verdade. Mas isso não lhe tira ainda o
título de time do momento.
Aquele Santos que reconquistou a América e começou a desenhar
essa hegemonia no futebol paulista além de verdadeiramente
competitivo, qualidade muito citada ultimamente por Muricy, era um time afinado
com a história do clube. Ou é ilusão deste que vos escreve o compromisso do time
da Vila com o futebol bem jogado?
Até bem pouco tempo atrás quando se falava do
Barcelona alguém sempre fazia questão de lembrar que o clube catalão há muito
tempo se mostra fiel a uma maneira encarar o jogo. Resgato esses detalhes porque
o Santos que tenho visto em campo me dá a impressão de fazer pouco caso disso
tudo. Acho que é algo a se pensar. O Corinthians de Tite nunca foi chamado de
brilhante. Ao contrário, enfiou goela abaixo de muita gente adjetivos até
então pouco enaltecidos. Mas alguém aí duvida da eficiência do seu jogo?
Jogadores, comissão técnica, ali tudo parece, ou não parece, reforçar
um estilo?
Uma filosofia de trabalho é também uma estratégia. É perfeitamente
compreensível que a fase mude, que o treinador encontre desafios pela frente,
mas é difícil aceitar que em tão pouco tempo nenhum vestígio dessa antiga
vocação santista seja visto. Outro dia ouvi Muricy e Neymar desdenharem da
beleza. Entendo a intenção deles quando dizem que não estão nem aí, que não
querem dar show.
No caso de Neymar chega a soar como uma heresia, pois foi
justamente a beleza de seu futebol que o transformou nesse cara cortejado. Pra
mim a falta de beleza é um sintoma. Onde existe beleza o futebol bem jogado é mais provável. Onde existe
beleza há encanto. Sem a beleza tudo se iguala, no pior sentido possível.
Nem
sei se beleza é o nome. Talvez fosse só o caso de se jogar futebol com alguma
graça. Ou de dar ao jogo alguma alma. Afinal, Drummond não disse um dia que é na
alma que se joga futebol? E mais, se ser competitivo é o grande objetivo o
Corinthians com seu futebol maduro parece muito mais do que o Santos, ainda que o
futebol esteja aí sempre pronto pra nos desmentir. Na minha modesta opinião o
Santos tem uma chance no domingo: ser um pouco aquele outro Santos.
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