Foi esta semana. Ainda na segunda-feira. Eu vi. A coisa não estava sacramentada. Faltava o cerimonial, o juramento. Mas o baixinho já estava lá... na imensidão dos prédios oficiais de Brasília. E alinhado. De terno escuro. O jeito de falar, intacto, era o do velho boleiro. Não teve jeito, destoou. Estranho ouvir um político falando com jeito de jogador de futebol. Quem sabe uma mera questão de treino.
Inquirido sobre suas nobres intenções, como sempre costuma acontecer aos deputados, o eterno camisa onze citou as crianças e me fez lembrar do Pelé, que segundo definição do próprio Romário, calado é um poeta. O que devemos esperar? Discursos recheados de gírias, peixe? Ou é tua intenção mudar de estilo? Não creio.
Seja qual for a tática, fique de olho aberto, bem aberto. Há muita coisa em jogo. Muitas crianças, viu? Esse sim é um jogo pra valer. Como você nunca viu. Esqueça o futebol. Futebol não passa de um esporte influente. Olha, poucos são os países deste planeta que poderiam te dar tamanha torcida. E com todos torcendo a favor. Perceba o tamanho do sonho. Da responsa.
O macete é ser vigilante. Por que por mais que a gente deseje - e queira - a marcação aí é frouxa, dá mole, não se faz dura como deveria. E esse é o tipo de coisa que amolece a disposição e a moral dos homens. Digo mais. Você acaba de entrar em um reino onde não faltarão espertos querendo te mostrar os tais atalhos pra ganhar o jogo. Mestres em fazer a correria sem se cansar, entende? Pura tentação.
Peixe, fica de olho porque essa vida no planalto pode te deixar parecido com os outros homens. Coisa que você nunca foi. Quem te viu em campo sabe bem disso. Dos tantos gols que já vi nessa vida é teu um dos que mais me dão prazer em rever. Brasil e Holanda, 1994. Um avanço rápido pela esquerda. Bebeto cruza. A bola vem a meia altura, desenhando uma curva para baixo. Entras em velocidade pelo meio da área. Marcado de perto. De olho na bola. De repente, ela pinga. E você, com um passo de balé, intui o momento exato de tocá-la. Com o bico da chuteira, corpo no ar, a manda pro gol. Domínio absoluto da arte.
Juro que não queria acreditar. Quando o repórter perguntou em quem você iria se espelhar para exercer teu legítimo mandato, por um instante, prendi a respiração. Saíste pela tangente sem deixar um nome sequer. Posso compreender. Não é uma tarefa simples buscar exemplos nesse deserto de ídolos que virou a nossa política. Criteriosamente escolhidos os bem intencionados daí talvez não sejam suficientes para montar um único time.
E mais, Brasília não tem praia. Louvados sejam os recessos. Não esquente, por certo ao redor do Lago Paranoá não faltarão quadras de areia para que possas brincar teu futevôlei. Além disso, a vida, essa sim uma verdadeira caixinha de surpresas, é bondosa, você bem sabe. Portanto, você há de encontrar alguns bons parceiros nessa enorme bancada.
Não esqueça apenas que aqui fora a onda da torcida continua sendo a mesma. O que a gente quer, e precisa, é de alguém que entre pra valer nas divididas. Como disse o artista, a gente quer é ver gol. Não precisa ser de placa. Ô peixe, o que a gente quer é ver gol.
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