Pobre de quem pensa ser capaz de decifrar o futebol. Vai por mim. Outro dia, nem bem o sol tinha raiado, um sujeito na padaria, ao me ver saboreando um café com leite - ponto de partida pra premeditar uma maneira de encarar o batente - mandou na lata, sem nem mesmo ter o zelo de fazer um singelo "bom dia" de prefácio, nada disso, baixou na área incorporando o melhor estilo beque-de-fazenda e cravou:
_ Como é que você explica o São Paulo, caindo aos pedaços, em crise, empatar com o Fluminense, a sensação do Campeonato?
Acostumado com as armadilhas impostas pelo ofício, contido, respondi a traiçoeira pergunta com um sorriso discreto e, acima de tudo, silencioso. Era cedo demais pra aceitar um desafio teórico dessa magnitude. Mas a tática falhou. O sorriso e o silêncio não bastaram. Apelei, então, para a simplicidade e, colocando na frase um tom de despedida, sugeri:
_ O São Paulo jogou bem e o Fluminense estava longe de ser aquele.
Pra meu alívio o inquisidor matutino se deu por satisfeito e seguiu seu caminho. Hoje, algumas rodadas depois, fico eu aqui tentando adivinhar o que ele anda pensando sobre o time armado por Muricy, principalmente, depois da derrota para o Guarani. Ainda bem que ele não me pediu para decifrar a goleada do Atlético Goianiense, então lanterna, sobre o Palmeiras de Felipão, nem para lhe dizer a razão que faz o Atlético Mineiro de Diego Souza, Ricardinho e Tardelli, patinar nas mãos de Luxemburgo. Ou ainda, esclarecer os tropeços do Barcelona e do Milan diante de adversários modestos muito além das nossas fronteiras. A zebra é uma possibilidade mundial, senhores.
E não é que esta semana nem bem tinha começado e eu me vi, de novo, diante de uma outra "casca de banana" ludopédica? Com o Corinthians na cola do Flu, a charada da vez era a seguinte: Qual deles é o melhor?
Jucilei, volante do timão, já faz algum tempo, ajudou a ecoar o debate ao dizer que o melhor elenco estava no Parque São Jorge. Nessa também não caio. Falar em elenco é amplo demais. Topo a parada, mas me dou o direito de não tornar esse duelo muito pessoal.
No gol, Julio Cesar pode não ter a experiência de Fernando Henrique, mas tem dado conta do recado. Vejo aí certa igualdade. O mesmo serve para a defesa. Willian e Chicão têm entrosamento e maturidade, mas Gum tem mostrado ser um zagueiro acima da média. Se eu fosse montar um time e tivesse que escolher os laterais de um ou de outro, ficaria com os do Corinthians.
No meio de campo a briga é boa. Isso quando se trata da parte criativa. Deco e Conca desequilibram. Já quando se trata de volantes fico com os comandados por Adilson Batista.
No ataque não tem jeito, o time das Laranjeiras leva ampla vantagem. Emerson é, ou foi (quem sabe?) um dos segredos do sucesso do tricolor carioca. Fred, em perfeitas condições de jogo, é respeitável. Assim como é impossível negar em Washington a vocação para o gol.
Mas é bom lembrar que a briga pelo título brasileiro deste ano, a meu ver, está muito além. Não descarto o Cruzeiro, nem mesmo o Inter. Duvido um tanto da capacidade competitiva do Botafogo.
Mas não sou adivinho, nem alimento a arrogância de achar que é possível saber tanto de futebol a ponto de antecipar surpresas. Fosse assim naquele dia, na padaria, estaria com a resposta na ponta da língua.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
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