sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O X da questão










Você deve lembrar. Não faz muito tempo. Foi na época em que o Rio de Janeiro se preparava para receber os Jogos Pan-americanos. Os dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro não cansavam de repetir que organizar um evento como aquele iria nos ensinar muita coisa, e que a partir dali o Brasil estaria credenciado para sediar eventos ainda maiores. Era tudo verdade.

Graças ao Pan do Rio aprendi muita coisa. Aprendi, por exemplo, que nada era pensado apenas esportivamente. Durante uma visita ao então inacabado estádio "João Havelange", os secretários e responsáveis pela obra falavam das futuras lojas e centros comercias do entorno com entusiasmo maior do que o usado para descrever o que viria a ser conhecido como Engenhão.

No estádio de Remo da Lagoa, não bastavam raias traçadas com equipamentos de ponta, importados e caros, era preciso espaço para lojas e restaurantes. Na Marina da Glória, sede das competições de vela, a mesma coisa. Nada de se contentar com a estrutura necessária para as provas. Um Shopping Center e um Centro de Convenções também constavam do projeto. E quando reclamaram que tudo aquilo iria alterar a paisagem de um lugar tombado, a estratégia da organização foi a mais óbvia: se tudo não fosse feito da maneira proposta o Pan estaria comprometido, e podíamos pagar um mico de proporções planetárias.

Mas o Ministério Público bateu o pé. Apesar de toda a choradeira e de todos os movimentos de bastidores, o MP venceu a queda de braço. Fez-se o necessário. E talvez tenha sido essa a vitória relativa ao Pan da qual mais deveríamos nos orgulhar. Não que tenha sido um triunfo definitivo.

No final de setembro do ano passado, poucos dias antes de o Rio de Janeiro ser anunciado como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o grupo EBX, do empresário Eike Batista, que investiu mais de 23 milhões de reais na candidatura do Rio, o que representa 62% do total, simplesmente comprou a concessão da Marina da Glória. E foi no jato do empresário que o governador e o prefeito do Rio viajaram para Copenhage, cidade onde o Comitê Olímpico Internacional fez o anúncio.

Na época, perguntado sobre o fato, Eike disse o seguinte: "Tudo foi feito de uma maneira tão transparente, tão aberta, que fica praticamente impossível eu pedir qualquer benefício político". Na semana que passou, a mineradora MMX, controlada por ele, recebeu um aporte de 1,2 bilhão de reais de um grupo chinês para aliviar as finanças. O mercado também é um grande jogo.

Daí a deixar que a Marina da Glória, parte integrante de um dos parques mais bonitos do país, o Parque do Flamengo, faça parte dele, são outros quinhentos. Que me desculpe o Caro leitor, por ter proposto um assunto tão sério quando o carnaval mal terminou. Mas cedo ou tarde teremos que deixar as fantasias de lado.



*Para ver imagens do Parque do Flamengo:
http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=476338

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