quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Todas as fichas em El Emperador



Eis que a Série B estava começando quando me pus a conversar com um amigo santista sobre o Peixe. Naquele momento a campanha do Santos no Campeonato Paulista deveria servir para abrandar o pessimismo, mas estava longe de produzir esse efeito. O futuro se apresentava como uma grande interrogação. Estavam os santistas todos perdidos na aridez da segunda divisão. O amigo, homem de televisão, editor de imagens dos bons, sempre tratou as coisas do futebol com passionalidade. Foi fazendo juízo do elenco. Dizendo o que achava de cada um. Mas quando a conversa desaguou no camisa nove Júlio Furch a discordância passou a dar o tom. E começou quando eu disse ter simpatia pelo atacante, apelidado El Emperador, que eu considerava brigador e, portanto, sob medida para o campeonato que estava pra começar. 

Meio sorrindo, meio desafiador, aquele que divergia de mim passou a elencar com entusiasmo tudo o que ele considerava desabonar o atacante. Temo que movido pelo desgosto de estar alijado da elite do esporte bretão. Tentei elegantemente mostrar que mesmo que ele não fosse um Serginho Chulapa seria de grande utilidade pro time. Nunca fui do tipo que tenta convencer ninguém, coisa muito comum no meio em que transito. Compreendo que avaliações do tipo carregam muito do gosto pessoal mas também sou levado a crer que é preciso ter um mínimo de parâmetros para estabelecer se um jogador dá ou não dá caldo. Para minha surpresa, mais confiante do que nunca na retórica que ia construindo, o amigo propôs uma aposta. 

Fiz de conta que não tinha ouvido, tratei de deixar no ar a impressão de que não tinha entendido. Mas ele insistiu ainda mais veementemente e bradou que se Furch fizesse mais do que três gols no torneio ele me dava uma garrafa de whisky. Vejam vocês. E ele, talvez, seja um sujeito tão pouco íntimo de apostas quanto eu. Bom, tratei de brincar dizendo que se ele queria me dar uma garrafa de whisky eu a aceitaria de bom grado. Aí ele rindo reiterou: o cara é grosso, não faz, mais do que três não faz. Movido mais pela amizade do que pela possibilidade de me dar bem o fiz notar que seriam longas trinta e oito rodadas. Era muita descrença. Já tinha entendido que o camisa nove não lhe inspirava a mínima confiança mas a proposta seguia sendo descabida. 

O que seu sei é que no fim de mais algumas risadas e cornetadas a aposta tinha sido aceita. Furch teve seus desafios durante a temporada. Ainda no Paulista lidava com uma lesão. Ficou afastado. Viu Wendell chegar e tomar um espaço que era dele. Amarga o maior jejum desde que passou a vestir o manto santista. E chega à ultima rodada da Série B com apenas três gols marcados. O que tem sido motivo de muito sarro, vocês podem imaginar.  Eu já aceitei o fato de que tenho uma garrafa de whisky pra pagar. Nessa história estou mais de Carille - que confiou no camisa nove como pôde - e menos como a direção santista que pelo que tem sido noticiado não conta com Furch para a temporada do ano que vem. 

Mas ainda não estou convencido de que apostei mal. Foram as circunstâncias. Disputasse o Santos mais dez temporadas da Série B com Furch ele daria conta da marca que me faria um vencedor em nove. Vá lá, em oito. Quem sabe ele não me vinga nessa rodada derradeira. Seria engraçado. O que me consola é que isso tudo tem servido pra eu lembrar muito de uma lição que aprendi com meu pai. E ele, por sua vez, com o pai dele. A lição é a seguinte: Filho, teima, mas não aposta.

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