Raul Baretta/ Santos FC |
Não faz muito tempo no meio de uma conversa sobre futebol com um amigo ele me fez uma pergunta dessas para as quais qualquer resposta não soa definitiva. É como aquela outra, tão ouvida por aí, que nos exige dizer se técnico ganha ou não ganha jogo. A questão era: um time deixa de ser grande? E eu me peguei imaginando a figura de um nobre que depois de umas tantas bolas fora acaba por ficar só com o título, com a comenda, quando tudo o que o cerca já não se renova com ar de realeza e ele passa a viver das lembranças de um passado que o tempo vai fazendo cada vez mais distante. Dando aqui um drible na lógica, diria que um clube pode continuar respeitado pelo que já representou mas no presente se apequenar.
Talvez um bom viés para analisar isso seria enxergá-los pelo faturamento. Afinal, nenhum nobre seria tido como nobre com seu poder de compra sendo dilapidado dia após dia. Entre os quatro ditos grandes clubes paulistas há notadamente um recorte. Neste momento de um lado estão Corinthians e Santos. Do outro, Palmeiras e São Paulo. O time santista , entre tantos desafios, tem vivido sérios dilemas que passam justamente por sua capacidade de faturar. Já teve boas provas de que ela melhoraria sensivelmente se ele abraçasse a ideia de ir jogar fora da Vila mais famosa do mundo. Mas tem arroubos que são herança dos tempos em que ninguém duvidava de sua grandeza e podia sonhar em ter tudo o que os rivais conseguiram. Ter uma Arena, por exemplo.
Mas a realidade recente mostra que hoje em dia querer construí-la à beira-mar o confinaria a um reino que talvez não venha a propiciar faturamento aos menos parecido com o de seus concorrentes. Mais ambicioso e digno de sua própria história seria construí-la, então, onde reinam os outros, na capital. Já o Corinthians que, todos sabem bem, anda com as finanças arruinadas nos remete a algum nobre perdulário desses que se negam a admitir que a realidade mudou. No mínimo, diria que nos dois casos eles se fizeram, ou têm se tornado, realmente menores do que foram um dia. Se ainda são grandes é uma questão de ponto de vista, de perspectiva.
Neste cenário ninguém renovou mais sua condição de nobre do que o Palmeiras. Não bastassem os títulos, que soam como comendas, há ainda o faturamento em constante evolução. E aí é possível dizer o que for. Que com esse recurso todo o time teria que brilhar mais, que tem por isso a obrigação de sempre encarar o Flamengo de igual pra igual. A torcida do Palmeiras poucas vezes na história pôde estar tão satisfeita. E ai de quem ousar dizer que o time do velho Parque Antártica não segue sendo um grande. E ainda que falte ao São Paulo uma trajetória recente farta de grandes títulos ele é o único dos outros três rivais alviverdes que pode lhe fazer frente a essa altura.
Não só porque andou papando um título aqui, quebrando um tabu acolá, mas porque tem colocado pra girar a engrenagem que pode verdadeiramente fazer um clube ganhar outra estatura: a de ter numerosa torcida. E a torcida do São Paulo, que anda lotando o Morumbi jogo após jogo, deveria causar inveja a todos os que venham a ser assombrados por esse dilema de ser ou já não ser grande. Até porque isso remete a outra dessas perguntas cujas respostas a elas nunca soam definitivas, que é: poderá existir algum dia time grande sem uma grande e presente torcida? Não por acaso quando o Santos joga na capital, com estádio lotado, dá a impressão de revelar outra estatura.