O juiz de futebol é por natureza um personagem sedutor. E vai nisso algo que não é propriamente do homem, mas imposto sobre ele pelo ofício que exerce. Não é de espantar que muitos se mostrem intrigados ao pensar nas razões que levam alguém a aceitar essa bendita profissão. Mas vocação é vocação, por mais que as atuações de muitos deles quase nos convençam de que houve uma interpretação errada a respeito dela. Não bastasse o desafio imenso de ter de colocar na linha Edmundos e Freds agora eles andam tendo de lidar com essa sombra chamada árbitro de vídeo.
Sabe-se lá o que vai no íntimo dos donos do apito. O quanto suas decisões têm de profissional ou pessoal. Imagino que é preciso beirar a iluminação para ouvir um sem fim de absurdos no ouvido a cada lance mais complicado e ainda assim apitar levando em conta apenas o que manda a regra. Como imagino que no fundo agora, toda vez que a voz no ouvido lhe sugere ir até a cabine para olhar melhor determinado lance um frio lhes corra pela espinha. E a caminho da tal cabine, em segredo, não pensem como era bom quando podiam decidir tudo solitariamente.
Não deve ser por acaso que dias atrás, quando na final do Campeonato Paulista, o árbitro Raphael Claus se viu nessa situação duas vezes e voltou delas com as mesmas convicções que tinha ido, sem mudar nada do que tinha apitado, aquilo soou raro. E quem acompanha futebol sabe que por mais que um certo estilo militar tenha se imposto nos últimos tempos a história do ofício foi construída com riqueza. Comportando ao longo do tempo homens que exerceram a profissão das mais variadas formas. Sendo em campo e com o apito, liberais, valentões, diplomatas, metódicos, vaidosos, falastrões.
Dá até pra dizer que a regra é clara, como sempre defendeu um dos maiores nomes da arbitragem brasileira. Mas aplicá-la e interpretá-la é de uma complexidade desafiadora. E explica muito da bagunça que andamos vendo por aí. Mesmo assim, ninguém mais do que os árbitros podem dar uma contribuição tão grande para que o futebol evolua. Por isso dia desses quando se deu a notícia de que a CBF estaria disposta a contratar um árbitro europeu para cuidar da nossa arbitragem considerei o teor da notícia muito alvissareiro. É fato que ninguém deu a mínima. Talvez eu tenha sido o único inocente a acreditar.
Fato é que se trata de uma questão primordial. Diante da possibilidade já dava até pra imaginar a ladainha. Os diretamente atingidos se apressando em dizer que não seria preciso trazer ninguém de fora para isso. Algo na linha do que se deu quando os treinadores estrangeiros começaram a ganhar espaço no nosso futebol. Uma coisa é certa, não dá pra querer um futebol como o que se joga na Europa com a arbitragem que temos. Basta ser só um pouco realista pra aceitar que o nosso VAR tupiniquim se tornou o anticlímax do jogo de bola.
Também se falou em um intercâmbio maior. Um recente acordo entre a Conmebol e a UEFA levou argentinos para trabalhar na Euro e trouxe espanhóis para atuar na Copa América. Donde concluo que os cartolas sul-americanos consideram os argentinos melhores do que os brasileiros. Sendo assim, deveríamos começar um intercâmbio com os hermanos apitadores já. Mas o que a CBF decidiu fazer foi trazer pra cuidar da questão um velho conhecido, o paulista, Wilson Seneme, que estava há mais de meia década cuidando da arbitragem na Conmebol. Enfim, algum descontente poderá dizer ainda: porque não trazer jornalistas esportivos também? E eu direi: Por que não?
Nenhum comentário:
Postar um comentário