Dizem por aí que a Vila Belmiro está por um fio. Pelo menos essa que até hoje ajudou a manter em alta a estima do torcedor santista. Sabemos todos não se trata do estádio mais moderno do país. E levando em conta conceitos arquitetônicos, não de coração, nem mesmo um dos mais bonitos. Mas quem poderia duelar com a Vila em charme e importância? Um dos estádios mais antigos do país e casa, sim, casa, do rei do Futebol. O que dispensa qualquer outro adjetivo. Não se enganem os de agora que se no ano de 2074 o mundo quiser reverenciar o centenário do dia em que Pelé se ajoelhou no circulo central da Vila, de abraços abertos para se despedir, o cenário fará tanto sentido.
Não quero fazer o papel do sujeito que é do contra. O testemunho que me dou o direito de dar é de que não devemos nos enganar. Aqueles recuos tão bonitos nas apresentações virtuais não serão vistos por quem pisar os arredores do Urbano Caldeira. Em tempo, persistirá o nome? Ou se verá derrotado implacavelmente por um futuro naming right? Vivo perto do Allianz Parque e vos digo, com toda sua imponência é preciso procurar muito até achar um ponto do qual seja possível ver seu desenho, tão cravado está no espaço que lhe foi dado. Qualquer semelhança com a Vila não será mera coincidência.
Não que os frequentadores e os torcedores da casa não se rendam à sua beleza e conforto. Mas o Allianz Parque nada tem do velho Parque Antártica, que tive o privilégio de frequentar muito graças ao ofício de repórter. Uma coisa exclui a outra, impiedosamente. Uma vez reconstruído nenhum estádio será o mesmo. Que a cidade seja carente de uma Arena para espetáculos dá pra concordar. Mas se Santos está tão perto da capital e lá as possibilidades são outras, quem optaria por um show na Vila? Roger Waters? Paul McCartney? Que filão desse negócio sobrará pra cidade? Questionamentos que, acredito, merecem ser feitos.
Nunca foi tão simples para mim aceitar essa questão de se passar a terceiros por três décadas um patrimônio. Se um clube tem o terreno e a história para fazer dele algo grandioso não seria o caso de buscar recursos para a execução? Dirão alguns que não se trata da atividade fim do clube, e isso diz muita coisa. A questão é complexa. Não deve ser por acaso que o único estádio declarado pela FIFA como monumento do futebol seja o Centenário, em Montevidéu, no Uruguai, palco da primeira Copa da história. Uma singularidade que também diz muito, ou no resto do planeta não há outros lugares que mereceriam essa honraria?
Algo me diz que a Vila Belmiro certamente deveria estar entre eles, por motivos que de tão óbvios nem terei o trabalho de apontar. Mas há tempos esporte e construção civil se misturam. É só ver o que virou cada edição dos Jogos Olímpicos. Enfim, trago comigo três certezas a esse respeito. Uma já desfiei aqui ao afirmar que uma vez posta abaixo a Vila Belmiro, o velho caldeirão, terá tido um fim. A outra, que acho todo santista de camisa ou não deve considerar, é se esse é um tema para ser decidido por um Conselho ou por uma Cidade. E por último, que o momento pede pra que a prioridade seja o time, não a Vila.