Aos saudosistas eu digo que há esperança. Nem tudo está perdido quando se trata de futebol. Vejam, a capacidade que o jogo sempre teve de nos surpreender, por exemplo. Quero crer que ela segue, se não intacta, viva. As mudanças e a dinheirama podem a ter enfraquecido mas ela resiste. Impressão que se renovou na retumbante queda do Flamengo na Libertadores. Ainda que tratar um time com a tradição de um Racing como zebra possa ter em si algo de heresia. E pode parecer cruel dizer mas essa mesma virtude do jogo de bola esteve refletida na classificação do Santos diante da LDU. Talvez em menor grau, mas esteve. Normal que a essa altura muitos digam que tinham apostado todas as fichas no time santista. Digo mais. Não é surpreendente ver o Santos envolvido na disputa por uma vaga na semifinal do torneio continental com o Grêmio e perceber que muita gente enxerga nesse duelo uma ausência de favorito?
Outra coisa que a queda do Flamengo mostrou é o quanto essa coisa de mudar de time no meio da temporada pode fragilizar um treinador. Parece óbvio que parte da sedução exercida sobre Rogério Ceni, que o fez mudar de ares, estava além de toda a tradição do time carioca. Estava na possibilidade de conquistar títulos importantes em curtíssimo prazo. O que podendo contar com um elenco de respeito como o do rubro-negro estava longe de soar descabido. Um preço que Abel Braga anda pagando também por ter aceitado voltar ao Internacional. Embora, claro, a história dos dois seja infinitamente distinta. Rogério Ceni nesse caso tem muito mais a perder.
E por falar em treinadores que chegam no meio do Campeonato a boa surprese é o português, Abel Ferreira. Jovem, de currículo modesto, mas que tem se mostrado apto a fazer do Palmeiras um time capaz de jogar um futebol com o qual o torcedor sonhou durante muito tempo. O que na mão de muitos pareceu impossível. Os que costumam frequentar este espaço já puderam notar minha simpatia pelo tipo de discurso que Abel tem apresentado, pela forma de explicar o que anda fazendo. Só o fato de ter aportado por aqui e demonstrado interesse profundo na história do clube que iria comandar, sem que isso soasse artificial mas sim fruto de alguma preparação, já seria o suficiente para distingui-lo do todo.
Nós aqui, mesmo íntimos do futebol brasileiro, poderíamos enxergar um Palmeiras que não fosse acadêmico. Um Palmeiras bem sucedido até como foram tantos, mas que nem por isso entraram para a história como uma academia. Vai saber. De repente, para alguém que tenha começado essa relação pelos livros é possível que lhe tenha soado inconcebível pensar num time que não tivesse um futebol vistoso como meta. Abel, que entrou no mira do clube alviverde por obra de analistas de desempenho, que testou para Covid e viu de longe o time dele patinar diante do Libertad na terça, dias atrás deu o que falar ao afirmar que não imaginava o menino Gabriel Véron vendido por uma soma de dinheiro menor do que a que foi dada a Neymar. Exagero? Talvez. Quem sabe exatamente como se distribuem as cifras nesse mundo da bola? Algumas são óbvias, outras surpreendentes, como o jogo. Só não são inocentes, sou levado a crer.
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