Não se trata de tomar partido. Muito menos de querer decretar quanto deve durar a pena de alguém. Quero falar apenas de um lado dessa história. Da atitude tomada pela treinadora do time feminino do Rio Branco, do Acre. Rose Costa, simplesmente pediu demissão ao saber que o presidente do clube para o qual trabalhava havia contratado o goleiro Bruno, ex-Flamengo, que cumpre regime semiaberto domiciliar depois de ter sido condenado pelo homicídio triplamente qualificado da ex-companheira. Notícia que, lhe chegou pela imprensa, não de forma oficial.
Poderia usar aqui o termo coragem, mas coragem sabemos todos até os injustos podem ter. O clube, por sua vez, cujo presidente tratou a contratação como uma das maiores da história não tardou a emitir nota dizendo que era inverídica a informação de que Rose comandava o time feminino. Mas a versão oficial - se bem analisada - só reforça o perfil de mulher cheia de atitude de Rose, pois diz que ela é que foi procurar o clube propondo a criação da equipe feminina. Ideia analisada e aprovada pelo Conselho Deliberativo, mas que com a chegada da Pandemia teria ficado apenas no papel. Detalhes que não impediram o clube de divulgar a volta do seu time feminino depois de três temporadas.
E se Rose se mostrou convicta, o mandatário do clube também. Nada o demoveu da ideia da contratação. Nem a perda de seu único patrocinador, muito menos o clamor de boa parte de seus torcedores e diretoria. Mas nessa história Rose não deve ser confundida com ninguém. Em plena pandemia abriu mão de sua única renda em nome de se manter em sintonia absoluta com o que pede a profissão que escolheu. E está justamente aí o que deve merecer nosso olhar : a maneira nobre como enxerga o esporte. Um gesto de luta para manter intacto seu papel. O que vai a partir daqui em síntese não são palavras minhas, é o modo de pensar de Rose, que ela fez questão de tornar claro.
Disse ver o atleta não como mero profissional, mas como um exemplo para a sociedade e para os jovens. Profissional de Educação Física há mais de trinta anos, ela sabe que o esporte, o futebol, tem uma conotação importante na formação cidadã. Rose disse que fez o que fez porque não acreditava em outra saída. Resignada por saber que será difícil se recolocar, não deixou de pagar o preço por acreditar que o futebol, com seu papel social, não deva de forma alguma estar atrelado ao crime. Em tom de lamento, não de arrependimento, disse em alto e bom som: não posso manchar minha história no esporte, até porque, eu sempre digo, nunca será só futebol.
E deixou mais do que claro que para ela é solidariedade, é sororidade também, muito além da prática esportiva. Se disse na obrigação de ser um exemplo para as atletas dela, e que esse foi o melhor exemplo que podia dar. Está com a consciência tranquila. De minha parte sei que, às vezes, o viés da história anaboliza o fato. Mas não consigo deixar de pensar: que mulher é essa! E na importância do recado que nasceu do que virou notícia. Vejam, sororidade é palavra recente que nem no dicionário está. Mas registre-se, em linhas gerais, é um sentimento de irmandade entre mulheres. Enfim, Rose se disse triste e revoltada. E eu digo: triste, revoltada e admirável.
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