Vivemos num tempo em que todo mundo parece ter um celular à mão. Mas como se sabe o tempo em que se tratava mesmo só de um telefone celular ficou pra trás. As benditas maquininhas evoluíram de modo infinitamente mais rápido do que nós, pobres humanos. Da noite para o dia deixaram para trás sua versão primata e se transformaram em sedutores smartphones. De modo que hoje em dia quem tem um telefone móvel que só sirva para esse fim fatalmente se verá na condição de excluído digital. Eu sei que dada a onipresença dessa geringonça para muitos é quase impossível imaginar que exista mesmo quem tenha ficado à margem dessa revolução. O que não passa de um tipo de miopia social.
Mas difícil mesmo seria encontrar por aí alguém que - pensando em suprir alguma necessidade básica ou de luxo - não tenha se visto obrigado a fazer a mais inevitável das perguntas para quem vive num tempo áspero e mercantilista como o nosso: quanto isso vai custar? Questionamento que se faz inevitável, embora cada classe o faça em circunstâncias distintas, muito distintas. E desde que o Flamengo dias atrás vislumbrou em uma medida provisória do governo a deixa para colocar em andamento um novo jeito de negociar e transmitir futebol ninguém mais do que o torcedor rubro-negro tem motivos pra se fazer esta pergunta.
Não que o Flamengo por isso tenha inventado a roda. Não que o modelo seja novidade por aqui. Já temos torneios e jogos transmitidos via web. Mas se o método não teve impacto maior até agora foi justamente porque depois da fatídica pergunta muitos torcedores chegaram à conclusão de que não podiam ou não queriam pagar literalmente pra ver. A mim parece muito óbvio que as fronteiras mais enxutas que o futebol tem hoje em dia, seu declínio como fator cultural do nosso povo, é algo intimamente ligado ao modo como ele foi explorado. Um modo de gestão que não pensa duas vezes se o preço a ser cobrado para engordar o faturamento tiver de ser exilar uma parte dos interessados pelo jogo.
Não sonhe o torcedor rubro-negro, ou qualquer outro, que a partir de agora será só abrir a internet para poder admirar o toque de bola do seu time. A conta um dia chega. Todas chegam. O que não o impede de sonhar que a diversão possa ficar um tanto mais barata, o que seria algo para ser comemorado como um gol. Quem sabe. Mas em minha mente perversa imagino que poder explorar o interesse de uma massa de dezenas de milhões de torcedores deveria ser suficiente para bancar certos negócios. Agora, se é possível além disso lhes tirar mais um dinheirinho, porque não, né? Afinal, o mercado tá longe de ser um ente sensível. E onde já se viu um torcedor querer ver seu time de graça?
De minha parte, sujeito avesso aos tais smartphones, digo que era só o que faltava. Cada um de olho grudado na sua telinha, de olho no lance, matando aos poucos aquele velho ritual, aquela velha comunhão entre os homens que o jogo de bola desde sempre alimentou.
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