quinta-feira, 7 de novembro de 2019

O fator Sampaoli



Sampaoli tem algo de incógnito para mim.  Não seus esquemas , nem sua trajetória.  Mas o que o levou a desembarcar por aqui.  A diretoria que o contratou tinha outro plano, Abel Braga. Vejam só. E isso me intrigava e intriga, também por que sua chegada - tão acertada - destoa do resto, das contas não aprovadas, das renovações de contrato sempre com um ar de novela e que deixam, por exemplo, o clube à beira de perder um zagueiro que é parte essencial do que o time tem sido. Isso sem falar em contratações como a do peruano Cueva.  

Muito é dito sobre o treinador e , talvez, o tamanho dele de certa forma não nos deixe analisar o elenco santista de modo justo. Pois na grande mídia o midas santista é o argentino. Mas não fossem os jogadores a carregar o piano e a aceitar, com empenho, a proposta intensa do treinador a ótima posição na tabela simplesmente não existiria. Ou alguém duvida disso? E quando digo que Sampaoli me soava um tanto incógnito era  amparado no fato de não conseguir ter uma ideia clara de como ele encarava esse momento da carreira. 

O futebol brasileiro era mesmo um desafio? O que lhe ofereciam na época em outros cantos não soava tão atraente quanto? O que ele pensa que nosso futebol pode lhe dar, o que quer dele?  Até onde seria capaz de ir para colocar um título brasileiro no currículo?  Toparia, pra isso, comandar outro clube? Talvez se ele desse à imprensa a chance de uma conversa em particular alguém conseguisse tirar dele algo nesse sentido. Mas Jorge Sampaoli não concede entrevistas exclusivas. E não quero aqui julgar o que é um direito dele. Mas me cabe dizer que talvez as coletivas não permitam aos jornalistas a proximidade e a profundidade de um papo que tivesse a intenção de versar sobre essas questões. Em último caso , durante elas o técnico terá sempre a premissa de em dado momento dizer que não são temas para serem tratados ali. 

Um detalhe que soava meio na contramão do sujeito totalmente integrado à cidade, que vai para o treino de bicicleta, que é visto na praia jogando futevôlei, que faz questão de receber a molecada que acompanha os trabalhos do time empoleirada nos muros do centro de treinamento santista. Como não combina com esse perfil ler, como li tempos atrás, que ele fazia questão de que seu estafe direto mantivesse certa distância de outros funcionários da comissão.  Sampaoli também nunca fez questão de ser amável com a diretoria, muito pelo contrário. Com tantas críticas a fazer a ela como lhe tirar a razão? Discurso aliás reforçado pelo Superintendente de futebol do clube dias atrás. 

Mas tudo isso foi por terra depois de ouvir a coletiva que Sampaoli concedeu após a vitória contra o Bahia, quando falou da cidade e , mesmo nessa situação coletiva, conseguiu , ser profundo sobre o ficar ou não ficar no Santos. Sampaoli está na condição de exigir mais e parece claro que a presidência não lhe está à altura. Independentemente desse fica ou não fica a situação é muito clara: faltando sete rodadas para o fim do Brasileirão o Santos segue classificado para a Libertadores do ano que vem. O que fatalmente será visto como um grande feito de Sampaoli. Mas a questão que ronda o torcedor é: o que restará na ausência dele?


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