quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Secador: modo de pensar





Torcer é algo muito pessoal. Cada um tem seu estilo. Mas se você torce fatalmente você seca. Nem sempre com a mesma pegada. Conheço torcedores discretos que são secadores fervorosos. E secadores discretos que são torcedores fervorosos, embora o segundo caso seja mais raro. Nos últimos dias me vi cercado por secadores entusiasmados. Um efeito colateral da derrota do Palmeiras para o Grêmio pela Libertadores. Houve, para dar sentido a tudo isso, o fato de o Palmeiras se encontrar naquela condição de time a ser batido, menos pela beleza de seu futebol e mais pelo poderio financeiro. Posto que o Flamengo lhe roubou de vez dias depois no Maracanã provocando a queda de Felipão, o simpático.

E esse clima de secação descarada se renovou dias depois quando o Corinthians ficou frente a frente com o Fluminense pela Copa Sul-Americana. Não com a mesma intensidade, até porque a alquimia dessa coisa de secar pede na porção um resultado que o valide, aí o treco expande. O que não se deu. Mas  a sensação que me ficou é que Felipão moldou um time nada sedutor. O que é fatal para atrair secadores. Não são todos, pois existem os convictos, mas sou levado a crer que um time que joga de forma reconhecidamente bonita costuma diminuir muito essa torcida contra.

O Santista também se viu no último final de semana - depois de bater a Chape com um gol contra - nessa condição de secador. O rito  pedia aquela gorada pra cima do Flamengo que iria pegar quem? O Palmeiras! De onde se conclui que o secador é um sujeito totalmente livre de bandeiras. Mas só não podemos achar que o ato de secar não tem nenhuma lógica. Como tem. E das melhores, simples. Pra levar adiante o rito,  se precisar cruzar os dedos a favor desse ou daquele o fará sem a menor cerimônia. O secador é , com a licença do termo, um ateu futebolístico, ou melhor, um agnóstico. Afinal, não é assim um descrente de tudo.

Estamos todos cansados de saber que o secador tem, como quando está na condição de torcedor, um sem fim de rituais banais e esquisitos. Ou usar a mesma meia de lã, em pleno verão todo dia de jogo não é coisa de matusquela,  como diziam antigamente? Do jeito que está o Brasileirão o Flamengo no final de semana será o grande alvo dessa turba pra quem a tabela de classificação de um campeonato é quase um oráculo. E quem conhece bem o raciocínio de um secador sabe que ele não esmorece diante de nada, nem mesmo diante do mega desafio de ter de secar o líder quando este, além de tudo, no conforto de uma óbvia inversão de mando de campo, terá pela frente o lanterna do campeonato.


* artigo escrito para o jornal "A Tribuna", de Santos

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