quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Surpresas


Javier Soriano/ AFP

Não era exatamente minha vontade começar escrevendo sobre o jogo que decidiu a Libertadores. O assunto se impôs, creiam. E aí vai ele. Entendo perfeitamente os descontentes com o desenlace da pendenga. Os que se negaram veementemente a assistir a decisão em terras espanholas.  Leve  em conta também que esse espaço de tempo que se situa entre o final da temporada e o final do ano é um desafio para quem escreve. Os acontecimentos dignos de nota rareiam, os que se dão são explorados até o caroço -  talvez nesse filão se encaixe o Boca x River - e , por outro lado, as negociatas que vão sendo tramadas nos bastidores podem de uma hora pra outra provocar uma grande notícia. 

De minha parte devo dizer que mesmo com todo o desencanto e descontentamento a final argentina da Libertadores me ganhou. Algo me dizia que o que veria seria um jogo esquisito, cuja alma tinha sido subtraída. Que nada. A partida me surpreendeu desde o início, quando o River me fez acreditar que não estava num bom dia.  Creio que até o Boca e sua torcida ao ver o que se desenhava no gramado do Santiago Bernabeu partilharam da minha impressão. Um jogo erguido com a fina mistura de técnica e coração. Seria bom que a história registrasse com mão firme a falta de capacidade e de caráter dos cartolas sul-americanos no episódio. Se digo isso é por achar que ela cometerá a injustiça de guardar mais a emoção do encontro do que a realidade bizarra que cercou a realização do mesmo. 
Albari Rosa/ Gazeta do Povo

E por falar em final de temporada vale registrar que se pra nós, brasileiros, ela só se encerrou na noite de ontem foi graças ao Atlético Paranaense, dono de um futebol vistoso, bom de se ver. Escrevo antes do jogo de ida. Mas nem mesmo uma noite infeliz vivida na Arena da Baixada tiraria do Furacão a condição de time elogiável. Sou um admirador confesso do técnico Fernando Diniz. Sei que essa coisa de detectar no time paranaense a herança deixada por ele já virou um lugar comum. Mas nunca foi tão fácil de percebê-la quanto no jogo de ida contra o time colombiano.  Não creio estar vendo coisa, como dizem por aí. Esse lance do toque de bola atrás, muitas vezes dentro da grande área, que exige sangue frio até de quem assiste o embate, é tão nobre e singular que desestabiliza o adversário, o desorganiza inevitavelmente. 

Primeiramente ou, principalmente, por colocá-lo diante de uma situação singular. E se há algo que pode tirar alguém da zona de conforto é ter de lidar com o novo. Cabe também um elogio ao time do Júnior Barranquilha que mostrou, como o Atlético, um jeito de jogar maduro. Consciente do que queria fazer em campo. Com jogadores capazes de apostar boa parte das vezes na ousadia, sem que isso soasse fora de lugar. Algo que tem sido verdadeiramente raro. E há um triunfo simbólico no fato de o Atlético Paranaense ter sido o último a sair de cena nesta temporada, depois de times como Palmeiras e Grêmio terem visto o sonho de conquista da Libertadores não se concretizar. Um segundo turno muito bom, aquela marcante vitória sobre o Flamengo com time reserva diante de um Maracanã lotado. Enfim, o Atlético Paranaense assim como o jogo de volta entre River e Boca foram pra mim gratas surpresas desse final de temporada. 

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