Você já deve ter
ouvido por aí aquela história de que o medo de perder tira a vontade
de vencer. A frase pode não ser exatamente essa mas creio não ter desfigurado
seu sentido. Mas depois de ter visto a partida entre Atlético Mineiro e
Corinthians, que marcou a estreia dos dois últimos campeões da Libertadores no
Campeonato Brasileiro, digo mais. Digo que o medo de perder hoje em dia se
tornou a grande ameaça que paira sobre o que resta de beleza no futebol.
A
engrenagem está aí, não é difícil de ser decifrada. É preciso jogar o jogo e não
tornar vulnerável os milhões ali investidos. Assim sendo, jogadores medianos
- mas que custaram muito - são escalados infinitamente, ou quase. Vão tendo
chances muito maiores do que o talento por si só seria capaz de garantir a
eles. E os treinadores, que há tempos passaram à condição de vedetes, sabem ter
muito a perder. Como não nasceram ontem, conhecem como ninguém as regras, não do
jogo, as do mercado.
Estão todos cansados de saber que não há virtude capaz resistir
às derrotas e por isso fazem o que for preciso para escapar delas.
Lógico, ninguém entra em campo, ou fica à beira dele, pra perder. Mas chegamos a
tal ponto que estamos sendo condenados por tudo isso a assistir jogos que de tão
estudados têm a aura massante de uma preparação para o vestibular. É triste de
ver, ainda mais quando se trata de times emblemáticos, de tradição. Não estou
falando de pequenos, ocupados com a ingrata missão de não cair.
Também não
espero de quem carrega nas costas tamanha responsabilidade uma tática suicida,
um ímpeto para o ataque que beire a inconsequência. Só acho que está mais do que
na hora de repensar o futebol nesse sentido. Ele precisa ser arejado ou se verá reduzido somente à vitória. E aí reside a questão. Também não espero que os
donos do espetáculo passem a tratar o futebol com sensibilidade, mas
precisam tomar consciência da necessidade da beleza, da criatividade e do
improviso em seu negócio.
Sei que há nisso tudo algo de onírico. E daí? Não sou o
secretário geral da FIFA que disse não gostar de pessoas sonhadoras. O mundo sem
essa possibilidade me parece tão opaco quanto o futebol brasileiro dos dias de
hoje. Já ouvi de gente com muito experiente em matéria de futebol que é preciso
repensar o trabalho que se faz nas categorias de base. Essa coisa do extremo
cuidado com a marcação, a valorização da força física, a vitória a qualquer
preço. Até agora achei que esse discurso fazia sentido mas sou levado a crer
que o que andam fazendo na base é
apenas copiar o modelo de cima, tido desde sempre como exemplo.
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