A sedução do esporte
profissional é incontestável. Quando digo esporte profissional falo no esporte de
alto rendimento. O esporte praticado por atletas de ponta. Gente com calibre
para sonhar em conquistar o mundo.A serviço dessa sedução não estão só
os triunfos, existem também o mar de cifras que costuma acompanhar marcas e títulos, a fama, que não é
sinônimo de fortuna mas que, boa parte das vezes, leva até ela.
Toda essa engrenagem tem papel fundamental para que os jovens se interessem por esse universo encantador. Mas esse fascínio não educa, não disciplina. E também não faz ninguém sentir de maneira plena seus benefícios físicos e mentais. Não se enganem, ninguém jamais descobrirá do que o esporte é capaz sentado em frente a um televisor. Trata-se de uma benção que ele reserva apenas aos praticantes.
Essa questão sempre me vem à cabeça quando vejo imagens como as registradas antes do jogo entre Flamengo e São Paulo, em Brasília, onde foi possível ver um torcedor, mesmo caído no chão, ser espancado por vários agressores que vestiam outras camisas. Isso sem falar nas incontáveis cenas de selvageria e má educação que podem ser vistas pelos estádios desse nosso país a cada rodada. Uma certa barbárie que se deixou sentir também nas reações à fotografia em que o atacante corintiano, Emerson, aparecia beijando, de leve, um amigo.
Que nenhum pai se engane, porque ao apresentar a seu filho o amor pelo futebol ao mesmo tempo lhe abre as portas para um universo cruel. Um universo de dicotomia. Um universo puramente sentimental mas que costuma fazer pouco de sentimentos finos. O futebol é bruto. É praticado por homens e não por freiras como nos fez questão de lembrar no último final de semana o técnico Osvaldo de Oliveira, do Botafogo, talvez o mais educado dos nossos treinadores.
E é por tudo isso que não deveríamos perdoar dívidas bilionárias de clubes de futebol. Tampouco devemos acreditar que eles, com suas administrações terríveis serão capazes de, a partir de agora, abrir espaço de maneira exemplar para esportes olímpicos. E é exatamente disso que tentarão nos convencer. Estejam certos. O plano levará o nome de Proforte. Lindo, não é?
Precisamos é gastar bilhões para que
as pessoas tenham acesso a quadras. Para que não falte a alegria da presença de
uma bola nem mesmo ( e principalmente) na mais distante das periferias. E porque
se deixar seduzir é parte do jogo, não precisamos de estádios para alguns.
Precisamos como sociedade, como país sede da próxima Copa e da próxima
olímpiada, tirar alguma vitória dessa nossa condição. E ela seria mais provável
se tivéssemos mais olhos para o esporte que educa do que para esse que só
fascina e seduz.
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