quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Jogar em casa


Afinal, que tipo de torcedor somos nós? O que nos satisfaz? O que nos move? As perguntas me assolam agora que estamos prestes a viver um momento pouco comum. Mano Menezes convocou hoje a seleção para os jogos com a África do Sul e a China. Dentro de algumas semanas o escrete nacional voltará a se apresentar em solo pátrio. A aventura irá começar pelo Morumbi, onde a seleção não joga faz cinco anos.

 Portanto, apesar do esforço da dita nova direção da CBF de aproximar time e torcida, é fácil perceber que a outrora seleção canarinho ainda continua mais parecida com um desses papagaios desenhados em estúdios de Holywood. Até aí nenhuma novidade. Mas o que me fez abrir esse nosso encontro com perguntas foi ter lido que Mano Menezes estaria, de certa forma, sendo assombrado pelo encontro com a torcida no Morumbi, onde as vaias ao longo do tempo têm sido uma constante.

Seria a torcida destas plagas mais contestadora do que outras? Gostaria de acreditar nessa versão, mas não acredito. A mim soa exagerado. Até porque quando jogou contra a Holanda por aqui ano passado o time brasileiro teve de ouvir um irritante "olé" quando a bola tocava nos pés adversários e, nesse caso, estava muito distante de São Paulo. Estava em Goiânia.

Foi o próprio Mano que lembrou a passagem dizendo que se tratava da Holanda vice-campeã mundial e que o empate em zero zero foi obtido com um jogador a menos. Ramires tinha sido expulso. " Isso não tem o menor cabimento", disse ele. Entendo a colocação do treinador. Mas, por favor, em se tratando de futebol quem decide o que cabe e o que não cabe é a massa. E a massa, como todos sabem, é docemente indomável.

Achar que um discurso do tipo " Já que a Copa é nossa, todo mundo tem de contribuir de alguma forma para que o resultado final seja o melhor possível", na minha opinião, não tem a menor chance de acalmar os ânimos ou gerar simpatia. Isso sem falar nas matérias de viés histórico que serão preparadas e que irão relembrar as incômodas passagens da seleção por São Paulo deixando o torcedor pra lá de consciente de que ele tem esse trunfo nas mãos.

Diante desse discurso oficial sou perfeitamente capaz de imaginar um torcedor levantando lá no meio para disparar:

_ O Mano, não vem com essa conversa fiada, não! Se todo mundo tem de contribuir, faz esse time jogar bonito!

A preocupação de Mano Menezes, por outro lado, faz sentido. Seria muito bom que a relação entre torcida e seleção melhorasse já que seremos os anfitriões da próxima Copa e não teremos saída, vamos ter de jogar diante da nossa torcida, ainda que tenhamos boas razões para imaginar que não serão exatamente os brasileiros maioria nas arquibancadas.

O interessante nessa história toda é que há escondido nas arquibancadas um desejo insaciado que gera boa parte dessa insatisfação e que talvez atenda pelo nome de beleza. " Queremos que todos tenham orgulho da seleção", foi outra frase emblemática dita por Mano. Emblemática porque esclarecedora. A massa pode ser cruel, mas é instintiva. Jamais vaiaria algo que lhe causa orgulho. Diante disso, tudo me leva a crer que o treinador da seleção, cada vez mais perto de pisar o gramado do estádio Cícero Pompeu de Toledo, deveria se preocupar menos com as vaias e mais em descobrir um jeito de cativar a torcida, o que pode envolver táticas e atitudes.

Mas a coisa não parece caminhar nesse sentido. O fato de os jogadores se negarem a usar a camisa preparada especialmente para o jogo comemorativo entre Brasil e Suécia é prova disso. Se negar a vesti-la usando o argumento de que ela era pesada, ou não é verdadeiro, ou é um melindre desses que nos fazem enxergar ali um time mimado. Poderiam dizer que era responsabilidade demais, ou dizer que perder usando uma camisa daquela teria um simbolismo maior. Poderiam até dizer que não se sentiam tão nobres pra isso... que seria mais simpático.

Nossos jogadores esquecem que a torcida é como o olhar do grande irmão que tudo vê e interpreta. Enfim, gostaria de acreditar no nosso poder de contestação, mas sou levado a crer, infelizmente, que nossa indignação raramente vai além das arquibancadas.


           Foto: Weimer Carvalho/O Popular/Folhapress


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