"Vida, minha vida/ olha o que é que eu fiz". O refrão da música do Chico Buarque me veio logo à cabeça. Na tarde que passou faz pouco tive a sensação de que as manchetes iam fermentando diante dos meus olhos. Tentei imaginar, não o cartola-mor, mas o homem por trás dele.
Gastei um tempo nesse exercício de supor o que estaria passando pela cabeça do Sr Ricardo Teixeira. Pensei que ouvir aquela música do Chico agora poderia ser um tanto fatal ou que ela lhe provocaria um mar de lágrimas.
Para alguém que foi alçado à condição de presidente da CBF com quarenta e um anos de idade a parte que diz: "Deixei a fatia mais doce da vida / Na mesa dos homens de vida vazia", poderia agora fazer mais sentido do que nunca. Mas a essa altura ele já havia deixado o país. Era um homem tentando driblar sua própria história.
Na carta que redigiu antes disso, e que foi lida pelo sucessor dele, o ex-governador biônico, José Maria Marin, ficou estampado o contraste entre a figura que reinou e aquela que se despedia. O sujeito que reinou jamais pareceu se deixar levar pelo encanto do futebol. O que se despedia parecia entender perfeitamente o papel da paixão em tudo isso.
No singular, ou no plural, lembro de ter visto a palavra paixão entre as linhas de sua carta pelo menos quatro vezes. E quando entre o fim da manhã e o início da tarde daquele dia tão simbólico seu sucessor, que eu ouvia atentamente pelo rádio, tentava convencer os ouvintes de que nada iria mudar, eu solitariamente lamentava a insistência dos nossos cartolas em administrar o futebol brasileiro com o pragmatismo e a cobiça de quem cuida de um banco.
Mas não devemos, sob hipótese nenhuma, nos furtar de comemorar o fato de que o o futebol brasileiro entrou, finalmente, em um outro momento. Por mais convincente que Marin tenha tentado ser, a "continuidade" defendida por ele no momento da posse já não existia. Os efeitos colaterais da história, em geral impiedosos, passaram a ser para todos eles a partir daquele momento uma ameaça constante.
Deixemos para trás esse capítulo que se arrastava por décadas. Um capítulo temperado por triunfos, mas triunfos que tiveram um preço alto demais. Triunfos que nos trouxeram uma alegria quase estéril, uma alegria que chegou a ter a hora de erguer a taça como apogeu, e isso sempre foi pouco pro nosso povo em matéria de futebol.
No mais, é vida que segue, como diria o bordão inesquecível de João Saldanha. O Santos estará em campo daqui a pouco tentado manter o brilho da bela exibição diante do Inter, quando tratou a Vila com a devida reverência. Uma noite pra fazer a derrota diante do Mogi - uma exibição tão sem brilho que feriu até a reputação de um time reserva - um detalhe cada vez menos importante nesse imenso turbilhão dos dias. Graças aos homens, e apesar deles, o futebol está longe perder sua magia.
quinta-feira, 15 de março de 2012
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