Não é de hoje que eu cismo com o zero a zero. Ninguém merece ser castigado por este que é o placar mais miserável do futebol. E essa minha compaixão se faz maior quando eu lembro de toda provação reservada aos que - em plena oferta do pay-per-view - ainda teimam em acompanhar as pelejas das arquibancadas.
Um verdadeiro exército de românticos que faz questão de alimentar essa paixão que os arrebatou desde a mais tenra infância. Faço essa afirmação baseado no fato de jamais ter encontrado um torcedor que tenha se apaixonado pelo jogo depois de burro-velho.
E falo de um tipo que nada tem a ver com essa versão pós-moderna chamada sócio-torcedor. Falo do sujeito que ainda tem coragem de encarar filas, do cara que topa o desafio de ir, dias antes do jogo, ao Pacaembu, ao Morumbi, seja lá onde for, encarar uma fila dantesca, mal organizada, mal intencionada.Gente que aceita na boa o risco de sair de mãos abanando depois de tanto esforço, gente que aceita barganhar o preço dessa emoção com cambistas.
O embate do último domingo entre Vasco e São Paulo turbinou esse meu desconforto diante do referido placar. O duelo travado em São Januário é meu argumento maior para essa teoria insana, mas poética. Não há nada capaz de aplacar o vazio contido em uma partida de futebol sem gol.
Mesmo um cara como eu, que quando moleque tinha os goleiros em alta conta, que sonhava em fazer defesas como Manga, como Rodolfo Rodrigues, mesmo eu me peguei desiludido. Nem mesmo as fantásticas defesas do arqueiro tricolor Denis, honrando, no sentido mais literal da palavra, o posto que pertence ao lendário Rogério Ceni, me satisfez.
Há algo que uma partida sem gol não tem e que não é o próprio gol e sua emoção. Não me venham com obviedades, por favor. Guardem o sorrisinho cínico de quem sugere que um jogo de futebol sem gol, claro, não tem bola rede, não tem o abraço caloroso entre os atletas depois dele, não tem aquela explosão histérica da torcida. Não é nada disso. Futebol sem gol é festa de aniversário sem brigadeiro. Praia sem sol.
Futebol sem gol é obra inacabada, e aí está uma boa explicação para que, apesar de tudo, alguns jogos sem eles sejam lembrados. Para os do contra, deixo aqui a pergunta fatídica: Por que será que jogos repletos de gols nunca são questionados?
Vai me dizer que nunca existiu um 6 x 2, um 8 x 1 , um 5 x 2 que tenha sido ruim? Qual é a graça que se esconde em tamanho desequilíbrio? O que ocorre é que a fartura costuma esconder fraquezas. Será que os velhinhos, e nem tão velhinhos, do "board" da FIFA jamais pensaram em por um fim a esse castigo? É do jogo dirão.
É verdade, é do jogo. Sem o castigo a própria humanidade seria outra. Pensando bem, se o futebol sempre esteve a imitar a vida, não poderia estar livre desse infortúnio. Ainda que não lhes falte beleza, o que eu sei é que há um deserto imenso escondido em uma partida sem gol, pode notar.
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
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