O juiz mira o céu e apita.
Com dez minutos de jogo Ganso já tinha esbanjado categoria.
O Santos vacila. O Peñarol chega.
Depois de ver lançamento pra Zé Love dar em nada,
Ganso fecha a cara, pede toque de bola.
O tal juiz deixa no ar a velha impressão de quem esqueceu os cartões em casa.
Novo passe primoroso de Ganso. Neymar é agarrado. Pouco depois, num lance de Pelé,
o menino usa a sola pra tirar de campo seu mais implacável marcador.
Zé Love manda a bola pra lateral e estufa o peito.
Léo perde a melhor chance do primeiro tempo.
O placar em zero a zero sugere tensão,
mas na volta pro gramado,em menos de dois minutos:
um toque de letra de Ganso,um avanço perfeito de Arouca
e uma finalização fatal de Neymar. Um a zero.
O Santos começava a triunfar. Arouca renascia.
Diante do futebol consistente de Adriano e Danilo,
o segundo gol, de Danilo,pareceu fazer justiça.
Injusto foi o Deus do futebol fazer Durval
participar do gol do Peñarol.Dois a um.
Amar Zé Love foi difícil até o último minuto.
Como foi difícil ver Ganso deixar o gramado.
Estava decretada a festa santista...
quando Pelé entrou em campo pra dizer que torcer era uma ato sofrido.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
sexta-feira, 10 de junho de 2011
É no Pacaembu. Ufa!
Ele fez como sempre. Entrou e sentou na última banqueta que ficava bem no final do balcão. Os mais íntimos estavam cansados de saber que o lugar pra ele tinha um ar de tribuna. Toda vida disse pra quem quisesse ouvir que dali podia ficar de olho em tudo que se passava no recinto, mas os amigos estavam cansados de saber que, no fundo, a razão era outra, tudo não passava de superstição.
Não era novidade pra ninguém que ele alimentava a crença de que uma vez sentado ali o Santos não perdia. Quando dava o azar de pintar na área e encontrar o lugar ocupado não pensava duas vezes. Arrumava outra banqueta e dava um jeito de colar no intrometido, que não demorava para perceber a intimidade dele com o local e, mesmo contrariado, acabava dando o fora.
Pra diminuir a possibilidade desse infortúnio, mesmo em dias sem jogo ele fazia questão de marcar posição ali, na esperança de que o ritual o ajudasse a manter qualquer um bem longe dele. Mas ontem quando o Silvio chegou ao bar percebeu no ar a inquietação do amigo que, claro, ocupava a sagrada última banqueta do balcão.
_ Que cara é essa meu velho? Tá pensando no quê?
_ Pensando no quê, tô pensando no jogo do peixe.
Silvio, que é palmeirense, não perdeu a chance de tirar uma casquinha.
_ Não vê a hora, né? Acalma esse coração que o primeiro jogo é só na semana que vem. Pra que sofrer agora?
Maneco respondeu, primeiro, com um olhar meio de lado, sugerindo certo desprezo. Mas a resistência dele durou pouco.
_ Não não tô nem aí com o jogo. Ponho a maior fé que meu time tem futebol de sobra pra ganhar desse Peñarol. Mas essa possibilidade do Morumbi quase me pôs louco. Ainda bem que se ligaram.
_ Ué!? Cê acabou de dizer que o Santos tem futebol de sobra. Qualé?
_ Vê se entende. Até você que é palmeirense vai sacar. Tá tudo dando certo no Pacaembu. Não podemos jogar na Vila. Beleza! Agora, só de pensar em ter que jogar no Morumbi eu já passava mal. Só de pensar naquela arquibancada me dá desgosto. Não sou novo, mas em 62,63, eu tinha sete anos, sei lá onde estava com a cabeça, não lembro de nada. E olha que espremendo os miolos sou capaz até de me ver com meus irmãos brincando na frente da nossa casa no Marapé, e olha que naquela época eu tinha bem menos que isso. Fazer o quê, né? Se a gente pudesse escolher as memórias não seria ruim. Em 2003, então, acreditei piamente que veria o meu time campeão da Libertadores e tomamos aquelas duas traulitadas do Boca. Logo do Boca.
Sarrista de fama reconhecida, Silvio não deixou a oportunidade passar. Entre o amigo e a piada, ficou com a piada:
_Não sei porque é que tu sofre. A tua banquetinha, que fica quase na entrada do banheiro, não é mágica? Burro foi você ter deixado ela aí em 2003. Se tivesse aguentado mais um pouco esse arzinho com uma leve fragrância de xixi, a história seria outra.
Contrariado, Maneco tentou por um fim na conversa.
_ Engraçadinho, vai se divertir com o esquadrão do Felipão, vai! Aquilo que é time, né?
_Ué! Eu não te entendo, não é o futebol que vale? Vocês não tem um timão?
_ Um dia você vai entender de tudo que é feito o futebol. Um dia. Os torcedores do São Paulo não conseguem nem disfarçar a uruca em cima do Santos.Tremem só de pensar que outro time, e não o deles, será campeão da Libertadores. É coisa descarada. Aquilo lá seria uma arapuca, arapuca das boas. Ufa!
- Então, ter um time bom não resolve nada?
_ O que resolve é a fé, a fé! Um dia você vai entender. E ó, dessa vez não arredo pé daqui,não.
Maneco pagou a conta, se despediu dos outros. Mas antes tirou a banqueta do lugar... que só podia ser dele.
Não era novidade pra ninguém que ele alimentava a crença de que uma vez sentado ali o Santos não perdia. Quando dava o azar de pintar na área e encontrar o lugar ocupado não pensava duas vezes. Arrumava outra banqueta e dava um jeito de colar no intrometido, que não demorava para perceber a intimidade dele com o local e, mesmo contrariado, acabava dando o fora.
Pra diminuir a possibilidade desse infortúnio, mesmo em dias sem jogo ele fazia questão de marcar posição ali, na esperança de que o ritual o ajudasse a manter qualquer um bem longe dele. Mas ontem quando o Silvio chegou ao bar percebeu no ar a inquietação do amigo que, claro, ocupava a sagrada última banqueta do balcão.
_ Que cara é essa meu velho? Tá pensando no quê?
_ Pensando no quê, tô pensando no jogo do peixe.
Silvio, que é palmeirense, não perdeu a chance de tirar uma casquinha.
_ Não vê a hora, né? Acalma esse coração que o primeiro jogo é só na semana que vem. Pra que sofrer agora?
Maneco respondeu, primeiro, com um olhar meio de lado, sugerindo certo desprezo. Mas a resistência dele durou pouco.
_ Não não tô nem aí com o jogo. Ponho a maior fé que meu time tem futebol de sobra pra ganhar desse Peñarol. Mas essa possibilidade do Morumbi quase me pôs louco. Ainda bem que se ligaram.
_ Ué!? Cê acabou de dizer que o Santos tem futebol de sobra. Qualé?
_ Vê se entende. Até você que é palmeirense vai sacar. Tá tudo dando certo no Pacaembu. Não podemos jogar na Vila. Beleza! Agora, só de pensar em ter que jogar no Morumbi eu já passava mal. Só de pensar naquela arquibancada me dá desgosto. Não sou novo, mas em 62,63, eu tinha sete anos, sei lá onde estava com a cabeça, não lembro de nada. E olha que espremendo os miolos sou capaz até de me ver com meus irmãos brincando na frente da nossa casa no Marapé, e olha que naquela época eu tinha bem menos que isso. Fazer o quê, né? Se a gente pudesse escolher as memórias não seria ruim. Em 2003, então, acreditei piamente que veria o meu time campeão da Libertadores e tomamos aquelas duas traulitadas do Boca. Logo do Boca.
Sarrista de fama reconhecida, Silvio não deixou a oportunidade passar. Entre o amigo e a piada, ficou com a piada:
_Não sei porque é que tu sofre. A tua banquetinha, que fica quase na entrada do banheiro, não é mágica? Burro foi você ter deixado ela aí em 2003. Se tivesse aguentado mais um pouco esse arzinho com uma leve fragrância de xixi, a história seria outra.
Contrariado, Maneco tentou por um fim na conversa.
_ Engraçadinho, vai se divertir com o esquadrão do Felipão, vai! Aquilo que é time, né?
_Ué! Eu não te entendo, não é o futebol que vale? Vocês não tem um timão?
_ Um dia você vai entender de tudo que é feito o futebol. Um dia. Os torcedores do São Paulo não conseguem nem disfarçar a uruca em cima do Santos.Tremem só de pensar que outro time, e não o deles, será campeão da Libertadores. É coisa descarada. Aquilo lá seria uma arapuca, arapuca das boas. Ufa!
- Então, ter um time bom não resolve nada?
_ O que resolve é a fé, a fé! Um dia você vai entender. E ó, dessa vez não arredo pé daqui,não.
Maneco pagou a conta, se despediu dos outros. Mas antes tirou a banqueta do lugar... que só podia ser dele.
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