quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Era uma vez o Clube dos 13 ?

Não há novidade no que vou dizer. O futebol é pródigo em dinamitar biografias. Risco elevado ao extremo quando alguém aceita o papel de dirigente. Patrícia Amorim, presidente do Flamengo, foi à sede da CBF receber um título vencido. A CBF queria cortejá-la ? Ou premiá-la por ter sinalizado em algum momento que se deixaria seduzir, apesar de ocupar uma das vice-presidências do Clube dos 13? Resta torcer para que as intenções do anfitrião sejam claras, ao menos, para a mandatária do time rubro-negro.

O fato é que o futebol visto pelo viés mercadológico em breve não será mais o mesmo. Homens vestindo ternos bem cortados entrarão em uma sala e entregarão suas propostas. A bola está com eles. Dirão a que horas você verá o seu time entrar em campo, quantas vezes, e para ser ainda mais cruel, terão decidido previamente quanto estão dispostos a pagar por essa sua paixão, quanto o seu encanto pelo futebol anda valendo no mercado.

A implosão do Clube dos 13, que cuidou dos interesses dos principais clubes do nosso futebol nos últimos vinte anos, sem dúvida, representa uma ruptura. Não é fácil aceitar derrotas, portanto, não causa espanto que na iminência dela os que se sentiram em perigo tenham se esmerado em tramar um jeito de driblar a tardia decisão do CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica - determinando que a era da preferência na hora de negociar os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro deveria ficar para trás, acabar.

Quem sou eu para dizer o que está certo ou errado? Os dissidentes de agora, amparados na sua importância, na dimensão expressiva de suas torcidas, podem mesmo se dar bem. Que investidor não gostaria de se aliar às duas maiores torcidas do país e mais alguns seletos convidados?

Mas, diante de tantas jogadas e artimanhas porque não determinar que seja qual for o modelo adotado deverá valer sempre a melhor oferta, afinal, quando o CADE decidiu pelo fim da preferência queria preservar o futebol, o direito de quem der o maior lance. Ora, se a regra pode ser mudada de acordo com o interesse aí fica fácil ganhar o jogo.

A intenção do Clube dos 13 não era passar a negociar cada mídia em separado? TV aberta, fechada, internet e tal ? Então, uma vez rachado o Clube dos 13, deveria se estabelecer que os clubes terão que, individualmente, ou não, negociar seus direitos de transmissão sem exclusividade, quem der mais leva. Não era essa a regra? Bom, regras nunca são claras meus amigos, por mais que tentem nos convencer do contrário.

Como ficará o futebol depois disso? Com os ricos mais ricos e os pobres mais pobres? O momento que a gente atravessa nos faz ver o óbvio: A grande tabelinha do futebol brasileiro é feita entre a TV Globo e a CBF. Ou vocês acham que podendo negociar com um time, ou alguns de cada vez, o interesse não será maior pelos que representam o filé? Aos que chegarem atrasados para o banquete, sem muito a oferecer, restarão migalhas.

Bendito ano de 1987, que viu a criação do Clube dos 13 e que viu nascer a malfadada Copa União que virou argumento para que as raposas apostassem na desunião dos clubes. Está decidido? Ainda não. Era uma vez o Clube dos 13 como a gente conheceu? Talvez. A partir de agora é um pouco cada um por si. Resta saber se vai dar Liga.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Caprichos do futebol

Eu sei que esta semana que está chegando ao fim foi do Ronaldo, cuja aposentadoria anunciada nos fez enxergar melhor a dimensão do Fenômeno. O sorriso do menino criado em Bento Ribeiro permanecerá incrustado no imaginário dos amantes da bola pra sempre. Mas o futebol é caprichoso e eu gosto de me render aos seus caprichos.

Falo do Sul-Americano sub-20 e sua garotada. No dia em que o Uruguai derrotou a Argentina por um a zero e garantiu a classificação para os Jogos de Londres a delicadeza da história aflorou. Os uruguaios garantiram ali a volta deles a uma Olimpíada depois de mais de oitenta anos. Isso muita gente se apressou em dizer. Os detalhes, no entanto, ficaram de fora, e é neles que reside a beleza desse momento.

Quando o futebol amadureceu no início do século passado os uruguaios, elegantemente, tiveram papel de destaque. Não sediaram a primeira Copa do Mundo por acaso. Eram na época bi-campeões olímpicos, donos de um futebol veloz e de um domínio de bola que impressionava até os ingleses. E foi justamente contra a Argentina nos Jogos de Amsterdã, em 1928, que eles conquistaram o ouro olímpico pela última vez.

Quatro anos antes, em Paris, já tinham enfrentado estádios lotados, com mais de sessenta mil pessoas, e só foram levar um gol na semifinal, quando venceram a Holanda, time da casa, por dois a um. Seria o primeiro e o único gol sofrido porque na final iriam garantir o ouro com uma vitória por três a zero sobre a Suiça.

A gente sabe que esse negócio de medalha de ouro é complicado. Só pode ser essa a explicação para o fato do nosso futebol não ter nos levado até hoje ao lugar mais alto do pódio olímpico. E olha que não foi por falta de craques. Vocês devem lembrar que recentemente Diego e Robinho também naufragaram nesse mar de tentativas.

Bom, a história segue caprichosa como sempre. Nossos garotos de agora podem ter cometido mais erros do que acertos diante da Argentina. Ouvi, de gente muito rodada, que a nossa seleção tinha deixado escapar a chance da vaga ali. Nada disso. A história nos reservou um final de arrepiar.

Não é sempre que se chega a um título entre seleções nacionais na última rodada, e condenando um adversário com a tradição do Uruguai a uma impiedosa goleada por seis a zero. O acontecido me fez pensar que nosso futebol é menos preciso quando amadurece. Acho que se distrai com a fama, perde aquela indispensável fome de bola.

Quem sabe chegará o dia em que teremos os mesmos olhos para o andar de baixo, pra garotada. Ainda não temos. Fosse essa façanha obra da seleção principal o oba-oba seria o de sempre, de torrar a paciência.

Naquele meio de semana que ficou pra trás, quando o prazer pequeno burguês da TV a cabo me permitiu escolher entre vários jogos. Corinthians e Ituano, pelo Paulista, Fluminenese e Argentinos Juniors, pela Libertadores e Argentina e Uruguai pelo Sul-Americano sub-20, todos no mesmo horário, não tive dúvidas, só me entreguei pra valer ao jogo da meninada. E afirmo - com a determinação de quem entra em uma dividida - que não me arrependi.

Vejam, a história tem sido tão rebuscada que mesmo tendo nos dado tanto em matéria de bola ainda não nos permite dizer que ganhamos tudo. Olho ainda neste instante, uma foto da garotada feliz, de taça na mão, na euforia da consagração, e me pergunto: Será essa a geração que nos levará a essa conquista que jamais experimentamos? Tramo um ponto final para este artigo rendido aos caprichos da história, que nos trouxeram Ronaldo, essa nova geração talentosa e que, por certo, nos trarão muito mais.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Árido Futebol

Esqueça de uma vez por todas o futebol romântico. Seu ambiente acolhedor. Os uniformes feitos de algodão. Os shorts apertados e curtos sem nada estampado no traseiro. Sou do tempo em que a cerveja ainda era uma consequência nada explícita do jogo de bola, do tempo em que curtíamos no intervalo, extasiados, na companhia segura dos nossos pais, uma velha e boa "caçulinha".

Mas o futebol, senhores, virou uma terra árida. Já não é possível chegar até a peleja relaxado, não conseguimos carregar pra arquibancada o astral sugerido pelos domingos. No fundo sabemos que a qualquer momento o bicho pode pegar, no pior dos sentidos. Até o sanduiche de pernil na porta do estádio é engolido com um olhar desconfiado que nos rouba o prazer do paladar. Como eram deliciosos os tremoços saboreados no Ulrico Mursa.

Dos idos de 1990 pra cá rolou muita paulada e muito blá-blá-blá. Os nossos promotores de justiça descobriram que as organizadas tinham o incrível poder de transformá-los em celebridades, elegíveis, inclusive. Ao longo dos últimos anos, como sempre, o futebol mexeu com o coração de milhões mas, infelizmente, deixou um rastro de algumas dezenas de mortos.

O vandalismo e as ameaças recentes envolvendo o Corinthians são apenas a ponta de um imenso iceberg. Responda de primeira: Você tem medo de ir ao estádio? Não!? Então saia por aí dizendo, sem medo de errar, que és alguém mais destemido do que a grande maioria. Um levantamento feito recentemente apontou que de cada cem brasileiros apenas um vai ao estádio e o principal motivo desse afastamento é a violência.

Quem está preocupado? O pay-per-view vai muito bem, obrigado. E se um dia o vazio dos estádios incomodar encheremos as arquibancadas por computador. A culpa não faz parte das regras que orientam o jogo dos donos do espetáculo. Só quem se dispõe a pegar um metrô, um trem, ou um ônibus em dia de clássico na imensa São Paulo é que sabe e sente o tamanho da dose de coragem necessária pra embarcar numa dessa. O que não se faz em nome de uma paixão. Seja ela cega ou não.

E não venham me falar em Estatuto do Torcedor porque depois dele - criado em 2003 - a coisa só piorou. Entre 2005 e 2008 foram vinte e cinco mortes ligadas ao futebol, direta ou indiretamente. Em nome da nossa segurança a Polícia Militar, já faz algum tempo, decidiu escoltar as torcidas organizadas até o campo de jogo. Seu desfile dantesco pelas ruas intimida o cidadão comum, paralisa o trânsito. A luz vermelha das viaturas acentua a imbecilidade de seus cantos belicosos repletos de ameaças.
Por causa deles as bandeiras tiveram que deixar os estádios, os radinhos de pilha tiveram que deixar os estádios e a geral nos pais de família na hora de entrar em um estádio é cada vez mais "fina". Quem é que vai salvar o nosso futebol desss falta de fair-paly marginal? Quem é que vai fazer o baderneiro bater ponto na delegacia na hora do jogo? É tanta baboseira que chegaram até a anunciar que a partir de 2010, isso mesmo 2010, pra frequentar os estádios o torcedor iria precisar se cadastrar, ser dono de uma carteirinha. Que criatividade, não? Ria, se puder. Ou chore. O futebol que nos tocou a alma está cada vez mais distante, cada vez mais pra trás.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ô peixe !


Foi esta semana. Ainda na segunda-feira. Eu vi. A coisa não estava sacramentada. Faltava o cerimonial, o juramento. Mas o baixinho já estava lá... na imensidão dos prédios oficiais de Brasília. E alinhado. De terno escuro. O jeito de falar, intacto, era o do velho boleiro. Não teve jeito, destoou. Estranho ouvir um político falando com jeito de jogador de futebol. Quem sabe uma mera questão de treino.
Inquirido sobre suas nobres intenções, como sempre costuma acontecer aos deputados, o eterno camisa onze citou as crianças e me fez lembrar do Pelé, que segundo definição do próprio Romário, calado é um poeta. O que devemos esperar? Discursos recheados de gírias, peixe? Ou é tua intenção mudar de estilo? Não creio.
Seja qual for a tática, fique de olho aberto, bem aberto. Há muita coisa em jogo. Muitas crianças, viu? Esse sim é um jogo pra valer. Como você nunca viu. Esqueça o futebol. Futebol não passa de um esporte influente. Olha, poucos são os países deste planeta que poderiam te dar tamanha torcida. E com todos torcendo a favor. Perceba o tamanho do sonho. Da responsa.
O macete é ser vigilante. Por que por mais que a gente deseje - e queira - a marcação aí é frouxa, dá mole, não se faz dura como deveria. E esse é o tipo de coisa que amolece a disposição e a moral dos homens. Digo mais. Você acaba de entrar em um reino onde não faltarão espertos querendo te mostrar os tais atalhos pra ganhar o jogo. Mestres em fazer a correria sem se cansar, entende? Pura tentação.
Peixe, fica de olho porque essa vida no planalto pode te deixar parecido com os outros homens. Coisa que você nunca foi. Quem te viu em campo sabe bem disso. Dos tantos gols que já vi nessa vida é teu um dos que mais me dão prazer em rever. Brasil e Holanda, 1994. Um avanço rápido pela esquerda. Bebeto cruza. A bola vem a meia altura, desenhando uma curva para baixo. Entras em velocidade pelo meio da área. Marcado de perto. De olho na bola. De repente, ela pinga. E você, com um passo de balé, intui o momento exato de tocá-la. Com o bico da chuteira, corpo no ar, a manda pro gol. Domínio absoluto da arte.
Juro que não queria acreditar. Quando o repórter perguntou em quem você iria se espelhar para exercer teu legítimo mandato, por um instante, prendi a respiração. Saíste pela tangente sem deixar um nome sequer. Posso compreender. Não é uma tarefa simples buscar exemplos nesse deserto de ídolos que virou a nossa política. Criteriosamente escolhidos os bem intencionados daí talvez não sejam suficientes para montar um único time.
E mais, Brasília não tem praia. Louvados sejam os recessos. Não esquente, por certo ao redor do Lago Paranoá não faltarão quadras de areia para que possas brincar teu futevôlei. Além disso, a vida, essa sim uma verdadeira caixinha de surpresas, é bondosa, você bem sabe. Portanto, você há de encontrar alguns bons parceiros nessa enorme bancada.
Não esqueça apenas que aqui fora a onda da torcida continua sendo a mesma. O que a gente quer, e precisa, é de alguém que entre pra valer nas divididas. Como disse o artista, a gente quer é ver gol. Não precisa ser de placa. Ô peixe, o que a gente quer é ver gol.