Tenho visto esse menino, e seu encanto, muitas vezes, já fez eu me pegar imaginando como seria o futebol jogado em outros tempos. O futebol dos craques que hoje os mais velhos não cansam de lembrar e endeusar. Há nele um ingrediente improvável, aquela elegância que costumamos encontrar apenas nas fotos e vídeos em preto e branco que se encarregaram de eternizar a alma do futebol brasileiro.
Eu, que baixei no mundo depois deles, vi Zico, vi Maradona, vi Romário, vi Ronaldo, e não posso reclamar. Os que virão, talvez vejam muito menos. A modernidade tem lá sua pobreza. Quem sabe se a vida tivesse me dado a chance de apreciar um Ademir da Guia no auge hoje as palavras não tivessem aqui tentando driblar a minha pretensão de fazer esse elogio. O texto fluiria melhor.
Mas é que tenho visto esse menino, tal qual um mágico, a revelar espaços no gramado. Espaços que só se materializam no momento em que ele faz nascer um passe, um lançamento, ou coisa que o valha. Um menino, sim, mas com o olhar altivo de quem enxerga o campo de jogo de um ponto qualquer, superior, calmo, calculado.
Mais do que aprender, descobri, e faz tempo, que há uma certa sabedoria, em seja qual for o ofício, que resulta em estilo, resulta numa plástica apurada. E isso ele tem de sobra, como tem. O corpo e os pés em total sintonia com os movimentos que sua imaginação propõe. E como se não bastasse, o cabelo de corte simples, o olhar sem deslumbre, a lucidez de quem tem um dom.
Por causa do futebol desse menino, no futuro, quando os interessados na memória do nosso futebol revirarem a história do Campeonato Paulista de 2010, irão certamente encontrar, decantado, o requinte das jogadas dele. Conforta saber que o futebol atual tem algo a deixar como legado. Há neste menino o consenso reservado aos grandes artistas, e isso soa justo.
Pouco importa que o treinador da seleção brasileira prefira os outros, ou que alimente uma cegueira própria dos que fazem da vitória o grande objetivo. No escrete que acaba de ser anunciado, ela, a vitória, é muito mais provável do que a beleza. Pensando bem, esse menino merece um outro ambiente. O nome desse menino é Paulo Henrique Chagas de Lima, vulgo "Ganso".
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