Neste tempo em que as ruas e casas se enchem de luzes, neste tempo em que nossos dias não são marcados por rodadas, em que todos os pormenores do Brasileirão já foram avidamente dissecados, todos os lances vistos, o campeão louvado, neste tempo em que o time dos melhores já foi escalado, e o melhor do mundo eleito, é preciso se livrar da pressa.
Neste tempo em que já se escolheu o gol mais bonito, a maior furada,a revelação, a promessa não cumprida,o investimento que não deu em nada, neste tempo em que os árbitros já foram julgados, neste tempo em que nem os pernas de pau foram esquecidos e a eles foi dada até a honra de formar um esquadrão, pode apostar, é natal.
Neste tempo,de sol forte e muita chuva, a fonte de onde jorra a matéria prima dos cadernos de esporte se faz escassa e as mesas redondas perdem boa parte da graça, já não deve haver divididas.Neste tempo árido de lances pra debater, meu amigo Mimi, em conversa rápida, abre o coração, e confessa sua prematura saudade da emoção de um bolão, da curtição de uma tabela de resultados preenchida com devoção quase religiosa.
Sei que há por aí um futebol rolando, mas que não é o nosso. Nele os campos estão repletos de neve. E os times repletos de nomes que não sugerem proximidade alguma. Nada têm de tropical. O nosso futebol, está de férias. É hora de pensar nos presentes. Humildade para o Luxemburgo. Sorte pro Dorival Júnior. Tranquilidade pro Muricy. Aos nossos cartolas graúdos, aposentadoria. Ao Neymar, uma ousadia talentosa. À Diego Souza, um estilo menos duro. À Obina e Mauricio o perdão. Ao esporte de alto nível, corpos limpos. Aos atacantes, precisão. Ao Celso Roth, um título. À Messi, que ficou com tudo, nada. À Cesar Cielo outro ano assim.
E que nesta noite que se aproxima muitas bolas sejam descobertas por baixo dos papéis de presente coloridos. São elas que ajudarão a tornar os homens que estão por vir cúmplices dessa nossa entrega ao futebol. No futuro, quando as árvores se encherem de enfeites, quando os papais-noéis estiverem novamente expostos nas janelas e nas varandas,os meninos presenteados de hoje irão silenciosamente,como nós, desejar um novo campeonato pra se divertir. Ainda que de modo secreto.E irão dar risada com os amigos.E irão viver a euforia madura de um gol.E irão esperar a próxima Copa. E irão atrás de uma bola pra dividir com o próximo.
Que não se iludam, no entanto, nem os apaixonados de hoje e nem os de amanhã. Nesta vida é preciso muito mais do que futebol. Fosse pra dar um livro, daria Guimarães Rosa ou Fernando Pessoa. Fosse pra dar um disco, seria qualquer um de Tom Jobim ou Jorge Ben.
Neste tempo em que as ruas e casas se enchem de luzes, nesta noite em que driblamos o cotidiano para estar com os nossos, neste tempo.... o futebol pode esperar.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
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