sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Sob a chama dos Jogos Olímpicos

A pira olímpica está acesa, ou prestes a. E o clarão dessa chama tem iluminado recantos onde os homens se revelam ausentes de certas virtudes. A era que abriga a vigésima nona edição dos Jogos Olímpicos é moderna mas, não exatamente sinônimo de evoluída. Aqui no ocidente vendem a idéia de que devemos nos orgulhar da liberdade que conquistamos.

A grande rede, a internet, ícone do nosso avanço, deveria agora estar pronta para nos servir. Atletas usariam blogs, páginas do Orkut, e deixariam expostas, como nunca, as entranhas desse grande evento. Viveríamos, então, a plenitude dessa época povoada de câmeras digitais. Mas vocês sabem, os direitos de uns acabam justamente onde começam os direitos de outros. E quando os outros são os donos do espetáculo, os direitos de uns poucos reduzem o horizonte da maioria.

Atletas não podem isso, não podem aquilo. E se um deles, de repente, se encontrar no ponto mais alto do pódio, nada de perder a compostura, de fazer um gesto, de gritar bem alto o nome de quem, de verdade, o ajudou a chegar lá e não precisou ler os jornais para conhecer sua história. Os responsáveis pela festa não se cansam de dizer que o cenário que criaram não deve ser usado para outras manifestações, políticas, principalmente. Tentam convencer a todos que o esporte se dissociou da vida. Os vitoriosos devem esquecer tudo, o fato de pertencerem a um país onde os direitos humanos não são respeitados, ou que as vidas de seus compatriotas estão sendo exterminadas por guerras repletas de armas e interesses.

Tudo em nome do espetáculo. Afinal, nos imaginamos diferentes dos anfitriões. Viemos de um país democrático. Viemos de um país, veja só, onde é possível escolher aqueles que vão nos governar.

Então, nos indignamos com esse país populoso capaz de prender alguém que colocou fotos indesejáveis na internet. Nos indignamos com essa China onipresente, que está nas etiquetas dos nossos tênis, bonés, produtos eletrônicos, brinquedos, e que tenta mascarar sua pobreza. E a pira lá, queimando, iluminando tantas mazelas, enquanto aqui nos trópicos acreditamos que somos livres, ainda que já não seja possível andar tranqüilo pelas ruas ou subir um morro sem autorização do tráfico ou das milícias.


Pense, se tudo sair como o planejado pelo presidente do nosso comitê olímpico, em 2016 será do Brasil o papel que hoje pertence à China.

Está aí uma boa disputa. Quem ficaria mais indignado? Nós? Se soubéssemos ainda mais a respeito deles, ou eles, se soubessem mais a nosso respeito?


Pois é, não sei não.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vladir, a gente já sabe onde vai dar essa história.
Especialmente se a olimpíada vier pra cá.
Afinal de contas o Pan passou faz muito pouco tempo.

Parabéns pelo fantástico texto.

Grande abraço.

Ton
waguaru@hotmail.com