Dias atrás, acordei no meio da noite com o coro de uma torcida. Mesmo sendo vizinho do Parque Antártica, não conseguia entender de onde poderia surgir aquele barulho, uma hora daquelas, num dia daqueles. Era a madrugada de segunda para terça-feira.
Um ginásio? Uma quadra qualquer vivendo um momento festivo? Um bar?
As perguntas foram se sucedendo no quarto escuro.
Será que o silêncio, sempre tão desejado nessa metrópole em que vivo, por uma intrincada soma de fatores teria repentinamente sido possível? E o efeito colateral seria esse, passar a ouvir sons de paragens mais distantes? Inimagináveis?
Não era um coro qualquer, era um senhor coro soando na noite de modo insistente. Cheguei a imaginar que alguém tivesse gravado aquilo, e agora, tomado por uma insônia tivesse resolvido ouvi-lo, alto, para ameaçar o sono dos que tinham tido o dom de adormecer.
A curiosidade venceu. Fui até a janela intrigado. E pelo vão entre dois edifícios que, recentemente, roubaram parte do meu horizonte, desvendei o mistério.
Divisei ao redor da praça, junto às grades do clube, uma pequena multidão, agitada. Em fila. Uma enorme fila, que se não foi suficiente para me roubar o sono, foi tumultuada o bastante para virar pesadelo quase doze horas depois, no início da tarde do dia que estava a caminho, e por um motivo claro: os cerca de quinze mil ingressos para a final entre Palmeiras e Ponte Preta, tão desejados, sumiram das bilheterias em pouco mais de duas horas.
Com três guichês capazes de negociar, cada um, cerca de 100 ingressos por minuto, estaríamos sem dúvida diante de uma invejável prova de eficiência. No entanto, todos sabemos que não foi esse o caso.
A fila, que pouco andou, terminou em pancadaria, com gente ferida, passando mal. Nos dias que se seguiram, os decididos a acompanhar o confronto final do Campeonato Paulista, precisaram bolar táticas mirabolantes, acionar conhecidos influentes e se sujeitar a aceitar um ágio de respeito para, finalmente, ter direito a um ingresso.
Não foi muito diferente no Rio ou em Minas. O futebol brasileiro é um só.
Por isso, esta semana um "ingresso para final estadual" valorizou mais do que as ações da Petrobras, mais do que ouro, do que o euro... mais do que o petróleo.
Os ingressos sumiram, os responsáveis também, e o torcedor segue como sempre: sendo o principal credor desse nosso futebol cada vez mais devedor. Em todos os sentidos.
O fato merece ser relembrado toda vez que um senhor elegante, trajando terno e gravata, voltar a dizer que estamos a caminho de um futebol de primeiro mundo.
Não, não estamos.
sexta-feira, 2 de maio de 2008
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4 comentários:
Sempre que vejo pela TV uma partida de um campeonato da Europa, fico admirirado com as arquibancadas lotadas. Em qualquer país os estádios estão sempre cheios. É incrível que um país como o Brasil, que foi a todas as Copas do Mundo e viu de perto o que é organização, não consiga "copiar" a fórmula...
[]s
Cláudio Maesi
Caro Claudio,
j� tive a oportunidade de acompanhar a a�o de cambistas na frente de est�dios europeus, como o Santiago Bernabeu, em Madrid. Mas acho que o que se passa aqui � realmente inaceit�vel. Foi, inclusive,o que motivou a postar neste blog a enquete atual.
Valeu! Abra�os
Pô Vladir, nenhum comentário aqui sobre o "novo" Cartão Verde?
Puxa vida, fiquei sabenpor outras fontes, mas seria legal se vc comentasse por aqui pra gente...
Adorei as novidades, só achei ruim o fato de ser em dias de jogos.
Grande abraço e boa sorte.
Ton
Ton,
veja só. Você tem razão. Confesso que gostaria de ter mais tempo para o blog. Quanto ao programa, passou para as quartas-feiras, às 23h40m. Entramos em campo quando a rodada de meio de semana está chegando ao fim.
Quem não assina "cabo" não tem direito ao "pós-jogo", né?
Ontem colocamos um "link" no Morumbi, e o Vitor comentou de lá, mostrou as entrevistas.
Nosso time é bacana e está fechado.
O programa ganhou a originalidade de duas grandes figuras, o jornalista Xico Sá e o Sócrates.
Veja, faça críticas ... dê idéias.
Abraço
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