quinta-feira, 13 de maio de 2021

Entre a euforia e a realidade

 



Nas duas últimas semanas a crônica esportiva mostrou entusiasmo com o nosso futebol, o futebol brasileiro quero dizer. É de se entender. Apesar de a última decisão continental ter tido duas equipes brasileiras ninguém ousava dizer, e não se tinha essa pinta, de que estávamos assim tão à frente dos outros.  Além do mais, o embate final entre palmeirenses e santistas era apenas a terceira final brasileira em toda a história da Libertadores. Mas teria sido um presságio dessa temporada que viria? 

Bom, isso o tempo esclarecerá. 


E se duas semanas atrás, diziam, tinha ficado faltando uma vitória santista no meio de semana, na passada ela veio. Uma goleada de números respeitáveis sobre um adversário que bem antes de entrar em campo muita gente já dava como vencido. Realmente os brasileiros andaram sobrando. Mas no caso do Santos melhor seria tratar a recente vitória sobre o Boca com moderação e balizar a realidade pelo que o time viveu  até o jogo da salvação diante do São Bento. 


Sobre o futebol brasileiro acho que certa supremacia chega a beirar a obrigação. Mesmo querendo ( e torcendo) para que a grana não seja algo totalmente definitivo nesse mundo da bola. Se levarmos em conta o faturamento dos times sul-americanos no ano de 2019, já que o ano de 2020 foi tão atípico, veremos que entre os dez que mais faturaram todos são brasileiros. O único intruso nesse grupo é o Boca Juniors. E se ampliarmos esse universo para os quinze primeiros todos seguem sendo brasileiros . Aí, além do Boca, só o River Plate, também argentino, passa a figurar.  


Isso num recorte nobre. Pois quando se trata de times de outros países do continente, então, um verdadeiro abismo se revela. Interessante notar que nos números fornecidos pela consultoria Ernest & Young o Santos, apesar de pouca diferença, figura acima de times como o São Paulo e o Atlético Mineiro. Mas nesse mundo montanhas de dinheiro nunca foram suficientes e não temos notícia de um único clube relevante que não esteja seriamente endividado. Contraste total com a nababesca situação da CBF que, acabamos de ficar sabendo, fechou o ano passado ainda mais rica, com quase novecentos milhões de reais em caixa.


 Mas se flamenguistas e palmeirenses, muito além dos balancetes, têm motivos para o entusiasmo os santistas devem se conscientizar de que nos arredores da Vila a banda toca diferente.  E o peso disso fatalmente caíra sobre as costas de seu novo treinador.  É preciso se perguntar, antes de tudo, o que poderá Fernando Diniz realizar no cargo que acaba de ocupar? Depois de um final de Campeonato Paulista dos mais melancólicos de toda sua história qual o horizonte que o time da Vila vislumbra?  Aquele velho papo do raio que cai duas vezes no mesmo lugar mostrou uma outra face. A do raio  que nunca caiu mas que pode cair chamuscando tudo e todos pra valer.  


O Santos, é fato, vive o caldo, ou rescaldo, dos atropelos de suas últimas administrações. Tudo fiou muito claro quando de uma hora para deixou de contar com resultados animadores que, não é de hoje, nem os entendidos sabem bem explicar.  E há ainda um outro detalhe importante que o tempo se encarregará de revelar, se a opção por Diniz se deu por opção ou não. O que pode fazer muita diferença. Mais do que a mística, a história mostra que o Santos sempre esteve comprometido com um jeito de jogar muito próprio, ainda que por vezes ele tenha ficado fora do alcance. 


Tenho a nítida impressão de que a medida que fará do novo treinador alguém visto como bem sucedido é que moldará tudo. Talvez, algo que deverá transitar entre a aceitação da ausência de títulos e a exigência de um futebol capaz de fazer o torcedor se sentir satisfeito. Para ser mais direto, o desafio de Fernando Diniz é imenso. Só não é maior do que os daqueles que aceitaram cuidar do clube e levar essa história adiante.  

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