sexta-feira, 23 de março de 2012

Os meninos e o futebol












Os meninos são a face mais pura do futebol. Para grande parte deles jogar bola, em algum momento, não foi apenas uma, mas a grande brincadeira. Você provavelmente sabe se um dia fez parte desse time.



Caso tenha alguma dúvida, pode acabar de vez com ela recorrendo a memória. Nela, as tardes passadas atrás da bola parecem infinitas? Existiu um tempo em que a pelada com os amigos estava, certamente, entre as coisas mais importantes do mundo? Não tenho o menor medo de errar. Serão muitos os que irão responder que sim.



E é justamente esse reinado no terreno fértil da infância que faz o futebol diferente de tudo. Sem essa soberania entre os guris o esporte dificilmente teria virado o que virou. Tudo bem que depois da nossa mais tenra idade o futebol tenha perdido espaço para outras curtições. Guitarras... meninas... viagens... ondas... estudo.



Em outras palavras, quando um menino brilha com a bola nos pés não é só o talento dele que nos encanta. Naquela meninice nos reconhecemos, reencontramos alguém que já fomos. Todo menino que o futebol consagra realiza um sonho que um dia também foi nosso. Somos cúmplices da alegria vivida por cada um deles. E isso é muito maior do que torcer por um time.



Digo que foi com euforia que encarei a redenção do jovem Lucas no clássico entre São Paulo e Santos, pois a exibição dele no último domingo trouxe de volta um menino para o futebol brasileiro. Um menino que vinha recebendo críticas de tudo quanto é lado. E Neymar, ao não poupar elogios ao adversário em dia tão importante, deixou transparecer que se reconhecia no momento vivido pelo amigo. Diria mais, nas entrelinhas sugeriu que se tratava de um embate entre iguais, e isso foi de uma elegância madura.



Imagino que em matéria de futebol ter o talento questionado pode guardar tanta crueldade quanto não ter o talento reconhecido. Flutuar entre o genial e o puramente normal exige fibra. Não sei se vocês viram mas até o empresário do Lucas, o bem sucedido Wagner Ribeiro, saiu em defesa de seu cliente dizendo que se tratava de uma Ferrari que estava sendo mal conduzida.



Sou capaz de compreender a comparação, mas não resisto à tentação de dizer, Sr Wagner, que a fábrica de onde saem esses meninos - tão caros e rentáveis - é muito mais perfeita e interessante do que aquela que fabrica Ferraris, em Maranello, na Itália.



E por falar em meninos, dias atrás me deliciei com a entrevista do garoto Wellington Nem no caderno de esporte do jornal "O Globo". O jogador do Flu, que tem vinte anos, contava ao repórter que no início de tudo chegava a se esconder, depois de ter sido inscrito pelo pai em time de futebol de salão, e que entrou em quadra na primeira vez chorando porque o que queria mesmo era ir para a rua soltar e correr atrás de pipa.



Wellington chegou ao Flu com treze anos, acaba de ser pré-convocado por Mano Menezes. Foi companheiro de Neymar em 2009, no Mundial sub-17, disputado na Nigéria. O atacante disse ainda que "Partir pra cima e driblar é a maior diversão".



De que campinho sairá um novo menino ninguém sabe. O sonho deles tem mais essa beleza, ignora a incerteza. Tem gente que vai dizer que hoje, aos vinte, ninguém é mais menino.Pode ser.



Mas é com eles que o futebol garante uma dose maior de graça.

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