Imbuída de
boas intenções a FIFA publicou na sua revista eletrônica dias atrás uma matéria
com dicas para os turistas que pretendem estar entre nós durante a Copa. De cara
era possível notar que algo ali soava impreciso. O título "Brasil para
principiantes" ia totalmente na contramão de uma das maiores definições que o
nosso país recebeu ao longo da história, aquela de não ser um país para
principiantes. E o maestro Tom Jobim, seu autor, ao tecê-la parece ter sido tão
exato quanto foi na hora de criar a melodia de Garota de Ipanema.
Prova disso é
que se trata de uma definição cada dia mais pertinente. Afinal, quanto mais o
tempo passa menos o Brasil é para principiantes. A cartilha com dez itens que
acompanhava a matéria continha dicas valiosas, como uma relacionada ao trânsito.
E a razão é simples, avisar alguém que neste país a faixa de pedestre é quase
ilustrativa pode salvar muitas vidas. Por outro lado, dizer que em uma
churrascaria " deve-se comer devagar porque as melhores carnes chegam no
final", não é exatamente contar a verdade.
Melhor seria dizer algo do
tipo: resista às tentações menores, não se entregue aos pãezinhos de queijo,
polentas fritas e afins, para não correr o risco de se encontrar entupido e
sem disposição para saborear o que uma casa desse tipo tem de
melhor. Experimente mesmo o açai, como está na cartilha. Se previne rugas como
está lá eu não sei, mas posso garantir que o sabor é interessante e, sem dúvida,
o fará se sentir bem alimentado.
Sobre dizer que gostamos de cultivar o caos e
que essa coisa de formar fila de um lado não existe, não é bem assim. Se
você estiver em um shopping, quem sabe, mas estiver no metrô na hora do
rush, quando não sobra espaço pra nada, melhor se encaixar na multidão e deixar
a onda humana ditar o ritmo e o destino. Eu não deixaria de sugerir que assistam
por aqui uma partida de futevôlei, uma pelada na praia. Experimentaria um chopp
num boteco desses que, de tão procurados, te fazem beber na calçada.
Quem sabe
alongaria um pouco a estada para poder ver um jogo de futebol que fosse do
Brasil, e não no Brasil. Mas não me arrisco a explicar a nossa relação com a
pontualidade, nem nosso jeito de lidar com o corpo. Beijando todo mundo,
adorando trajes mínimos nas praias, mas tendo total falta de
modos pra lidar com um simples topless. Quem sabe nossos visitantes não
descobrem algum prazer em fazer as coisas no último minuto. Não falo desse
último minuto sacana de uma gente que se locupleta com o atraso. Falo de outra
coisa. E pra finalizar, não acho que a filosofia dos brasileiros, como também
está na cartilha, pode ser resumida com um "relaxa e aproveita". Eu a mudaria um
pouco, diria: "relaxa, aproveita e não tente entender"